Parafraseando o livro de poemas de Federico García Lorca: “Un poeta en Nueva York” e ainda em homenagem ao “Mês das Crianças” dedicamos o “Café com LetraZ” desta semana a este brasileiro, brasileiríssimo personagem Disney: O José Carioca, Joe Carioca, Pepe Carioca ou para os íntimos:
ZÉ CARIOCA
“Um brasileiro na Disneylândia…”
Quem não se lembra dele? Aquele famoso papagaio malandro que Walt Disney nos presenteou em dois de seus grandes clássicos :
“Alô, amigos” (Saludos, Amigos – 1942) e “Você já foi à Bahia?” (Los Tres Caballeros – 1945)?
Pois é, quando falamos do Zé Carioca logo lembramos de um papagaio muito folgado, que não dispensa uma feijoada, um refrigerante fresco, além de uma deliciosa e relaxante rede ao ar livre… Falar deste malandro é relembrar tempos em que um simples ‘gibi’ fazia a alegria da criançada e encantava adultos apaixonados por histórias em quadrinhos.
Desde sua criação em 1942 até hoje, o personagem tem passado por modificações. Estreou no Clássico Disney (Saludos Amigos) vestido a rigor: de paletó e luvas creme, gravata-borboleta, chapeu Boater, seu inseparável e famoso guarda-chuvas e… um “charuto” (mais parecia um magnata). Como se não bastasse fumar charuto ainda por cima, o louro convida o Pato Donald para “beber uma cachaça num bar”. Ora vamos, hoje em dia esse comportamento estaria completamente fora de lugar, além de considerado politicamente incorreto para uma personagem infantil. Mas, como ainda não estávamos vivendo esta era com seus valores, vá lá… Atualmente, já modernizado, o papagaio carioca se veste com camiseta sem mangas, chinelos e boné! – para um país tropical, nada mais apropriado, ainda mais para um brasileiro de periferia – Zé carioca vivia em uma “vila”, a Vila Xurupita (localizada no Morro do Papagaio), que não chegava a ser uma “favela”, mas com muitas similitudes.
Zé Carioca é na realidade um estereótipo do ‘brasileiro carioca’ (do Rio de Janeiro) que muitas vezes não corresponde à maioria de nós, pelo simples fato de ser um estereótipo e ainda por cima regional… Além da alegria e musicalidade latente no personagem, o Zé é de natureza preguiçosa, sempre fugindo do trabalho e dando um jeitinho para levar vantagem em tudo, por isso sempre se mete em confusões. Aprecia como ninguém a nossa culinária, além de uma rede, sombra e água fresca – algo parecido ao “pícaro” da cultura espanhola. Claro, não podemos esquecer da sua “turminha” composta por su amada e querida Rosinha e dos amigos Pedrão, Nestor e Afonsinho.
“Zé Carioca”, “Macunaíma”, “Víctor Valentín”, “Caco Antibes”, etc. – somos o país dos anti-herois, quer dizer, estes ídolos nacionais que vencem na vida a base da picardia e, às vezes, também lamentavelmente, através da “picaretagem”; e o que é ainda pior: tendo reconhecimento do público em geral… Ai, meu Brasil brasileiro!!!
Mas de onde surgiu este papagaio tão atrapalhado e divertido?
A história começa no ano de 1941, mais precisamente num domingo, 17 de agosto, quando um avião pousou no Rio de Janeiro trazendo a bordo um passageiro muito famoso: nada mais nada menos que Walt Disney.
Acompanhado de sua esposa e de inúmeros artistas, roteiristas e músicos, Disney viria conhecer o Rio de Janeiro e algunas regiões do Brasil, além do Chile, Argentina e outros países da América do Sul. Durante toda a visita pelo nosso país, foram criados diversos desenhos, quadros e fotografías que mais tarde serviriam de inspiração para a criação de uma nova série de cartoons.
Disney, sua esposa e alguns de seu grupo se hospedaram no “Copacabana Palace” o mais emblemático hotel da cidade, e o restante no também afamado “Hotel Glória”. Iniciaram, então o passeio por toda a cidade do Rio de Janeiro e quase que imediatamente surgiram esboços de ilustrações e incontáveis rascunhos de desenhos baseados no colorido exótico local. Ficaram, particularmente, fascinados pela flora e pelas aves brasileiras que aos seus olhos lhes pareciam únicas e exóticas.
Após alguns días conhecendo a cultura brasileira, em especial a carioca, os artistas e roteiristas se deram conta da importância das aves e do papagaio na nossa cultura. Então, começaram a producir esboços da ave, pensando em criar uma nova série animada. Conheceu um cartunista, José Carlos, que lhe serviu de inspiração (há rumores de que foi José Carlos quem primeiro esboçou o personagem do papaguaio carioca, presenteando-o a Walt Disney…). E logo o personagem que chegou às telas foi chamado de
Zé Carioca (
Joe Carioca o
Pepe Carioca, em outras versões estrangeiras do clássico), vindo a ser astro de inúmeros filmes Disney, gibis e seriados de TV.
O papagaio brasileiro foi criado para o filme “Alô, amigos” (Saludos, amigos, 1942). Era um desenho que mostraba a América do Sul e o Zé ciceroneou o Pato Donald em terras brasileiras. Ao som de Aquarela do Brasil (Ary Barroso) e Tico-tico no fubá (Zequinha de Abreu), eles beberam cachaça e sambaram juntos e o filme popularizou estas duas músicas no exterior. Três anos mais tarde, o papagaio apareceu novamente em um novo longa metragem “Você já foi à Bahía?” (Los Tres Caballeros) cujas viagens que fazem as aves animadas são um presente dado a Pato Donald pelo seu aniversário.
Na verdade, Zé Carioca foi inspirado no famoso sambista da época Paulo da Portela, quem acreditava muito nas ações para a divulgação do samba.
Paulo da Portela ao ser transfigurado no Zé Carioca torna-se o grande mediador entre o samba e outras culturas…
Bem, a pesar de todo apelo tecnológico dos games entre jogos eletrônicos e consolas; também da televisão aberta e a cabo, e dos desenhos cibernéticos, a literatura infantil em geral e as histórias em quadrinhos em particular ainda ilustram e ensinam com responsabilidade as nossas crianças. Principalmente quando são tão bem feitas como o fazem os maravilhosos cartoons de ‘Papai Walt Disney’…
Nota de rodapé: Michel Teló (foto destacada no cabeçalho) declarou que foi muito bem recebido nos Parques da Disleylândia (Orlando) há dois anos (em outubro de 2012), principalmente porque foi recepcionado, no Magic Kigdom, por nada mais nada menos que o nosso “Zé Carioca” .
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