A dupla BAUCHWITZ/RIZZOLLI inaugura nesta quarta-feira, dia 11, às 19h, a exposição “¿Puedes Encontrarme?” , na galeria El Patio de Martín de los Heros. Utilizando-se de conversas coletadas em espaços virtuais e vídeos gravados via Skype, a mostra levanta questões sobre o lugar do amor na linguagem e sobre seu significado em nosso cotidiano. No dia da inauguração haverá uma performance de contos onde serão compartilhados “drinks narrativos”.

Nesta entrevista por email nos contam sobre o trabalho e como é o processo de criar a dois.

1- Gostaria que vocês contassem um pouco da trajetória artística.

Bauchwitz: Estudou Artes Visuais na UFRN, Brasil, concluindo o curso com um trabalho sobre a memória familiar em 2011. Mais tarde, em 2012, frequenta o Mestrado em Investigação em Arte e Criação na Universidade Complutense de Madrid (UCM) com uma tese sobre micropolítica nas artes e na busca constante do artista. Essas temáticas estão sendo investigadas em seu doutorado, também na UCM, com foco na indecisão e no ritmo. A literatura sempre foi seu dispositivo criativo.

Rizzolli: Estudou Artes Visuais na UNESP, Brasil, concluindo o curso com um trabalho sobre corpo e performance, em 2005. Em 2012, ingressa como aluna convidada na Klasse Spehr, na Kunsthochschule Kassel, Alemanha. Nesse período, participa de diversos projetos internacionais e inicia uma série de trabalhos artísticos que resultam da exploração do espaço social/físico ou apresentam artisticamente elementos da cartografia e do mapeamento. A ciência sempre foi seu dispositivo criativo.

2- Por que vocês se identificam com os dois sobrenomes?

Decidimos assinar como BAUCHWITZ/RIZZOLLI, para anular um pouco a barreira do gênero que sempre existe. De alguma forma, quando decidimos isso, percebemos que estávamos assinando como um só, um coletivo.

3- A exposição “¿Puedes Encontrarme?” é feita a quatro mãos. Como surgiu a ideia de vocês trabalharem juntas?

Em 2013, quando Rizzolli foi selecionada para o projeto “Sweet Home: residencias de investigación” em Madri, Bauchwitz concluía seu mestrado na Universidade Complutense de Madri. Um amigo em comum, Caetano Ferrari, nos colocou em contato via e-mail e nos falamos via Skype pela primeira vez. Marcamos um encontro presencial em Madrid e desde então trabalhamos juntas. Nossas pesquisas são complementares e nossos projetos refletem sobre a criação coletiva, a coexistência entre os diferentes e a importância do afeto no processo de criação. A gente se ama.

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BAUCHWITZ/RIZZOLLI Paisagens de Amor / Souvenirs para Amantes (2015), impressão digital, 148 × 210cm

4- Vocês seguiram alguma metodologia? Como foi o processo de criação?

Em 2013, começamos a pensar o projeto “Coexistent Paths” juntas (aprovado para a residência pelo MAK – Museu Austríaco de Artes Aplicadas/ Arte Contemporânea) e à medida que nos íamos sentido mais a vontade como criadoras, é verdade que os laços afetivos foram também se estreitando.   Nosso processo de criação é muito natural e se dá pelo convívio, pelo diálogo, pela transparência.

As coisas vão surgindo. “Samara”* surgiu num boteco, por exemplo. “¿Puedes encontrarme?” de dores no coração e da necessidade de encontros. As questões da distância e das relações virtuais e da nossa própria distância. Começamos o projeto em outubro de 2014. Definimos algumas linhas de ação, como as coletas de diálogos em ambientes virtuais, o que levou a pesquisa de slangs, abreviações e o uso do X para anular o gênero na escrita. Depois, tentamos encontrar uma forma de apresentar visualmente essas narrativas. Gravar o vídeo via Skype foi uma consequência bastante orgânica.

*Samara é o nome de uma música do grupo Forró Perfeito que fala sobre a mulher. “Coisa linda famosa Samara, Deixa eu bater na sua cara, E te chamar de otária, E fazer amor, fazer amor… “.

Pensando na música, gostaríamos de desenvolver um projeto nas periferias do Brasil, pensando sobre a condição/papel social da mulher. Entender quem é a “Samara” e como essa ideia é construída nas diferentes regiões do Brasil.

5- Vamos encontrar cartazes, vídeos e na inauguração teremos performance. Por que tantos suportes para falar deste tema?

O suporte ou a técnica nunca foi um ponto de máxima importância no meu processo (Bauchwitz). Para mim o fundamental é expressar o que precisa sair de mim. Questões sobre a memória e o registro que guardamos da vida, dos lugares, do corpo diário sempre me interessaram. Rizzolli é mais técnica, centrada, interessada na linguagem e nas estruturas formais. Juntas formamos um casal que se hibridiza com facilidade, mas acredito que temos as linhas de pesquisa muito bem definidas. Somos artistas de projetos, de ideias que podem ser vivenciadas e experimentadas por todos. E o nosso projeto é a nossa vida, como a de todo o mundo.

6- A proposta é refletir sobre o amor na linguagem. Depois de tanta pesquisa e da criação de estas peças, que conclusão vocês tiram de este assunto?

O amor na linguagem ou a linguagem amorosa, mais bem. O amor é algo que não pode ser definido, mas tentamos.  Não é ruim tentar explicar o que você está sentindo quando acha que está apaixonado, isso é normal. É como tentar explicar ao médico o tipo de dor que se sente. O problema começa quando mal-usamos a linguagem para expressar o amor e acabamos repetindo vozes que não são as nossas ou quando mal-usamos a linguagem para perpetuar a violência no nosso cotidiano.

7- É a primeira vez que vocês expõem em Madri? Quais são as expectativas?

Madri é muito importante para nós, pois foi nesta cidade, no café La Libre, que nos encontramos pela primeira vez. Desde então, nos vimos duas vezes, ambas em São Paulo e iremos nos reencontrar onde tudo começou. É muito significativo que nossa primeira exposição seja aqui. Madri tem sido também a casa de Bauchwitz e expor no Pátio de Martín de los Heros, um espaço de pesquisa e arte ousado, é um grande prazer.

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BAUCHWITZ/RIZZOLLI Paisagens de Amor / Souvenirs para Amantes (2015), impressão digital, 148 × 210cm.

8- Vocês pretendem trabalhar juntas no futuro? E individualmente? Quais são os projetos que vocês estão envolvidas?

Sim. Em abril vamos para o “Mackey Apartments”, em Los Angeles, onde desenvolveremos o projeto “Coexistent Paths”, financiado pelo MAK Viena, por seis meses. Temos uma plataforma online, o Lab de Estudos Espaciais, que usamos como diário de bordo e onde subimos o resultado de propostas visuais sobre o espaço.

No projeto “Seguirei seus passos”, criamos postais com imagens e textos nas cidades onde nos encontramos fisicamente. Por último, temos o projeto “Samara” para o qual estamos buscando financiamento.


 

Quando? Inauguração: quarta, 11 de março, às 19 horas. A exposição fica em cartaz até 21 março de 2015.

Horário: terça a sábado de 17:00 a 20:00h.Gratuito.

Onde? Galeria El Patio de Martín de los Heros, calle Martín de los Heros, 15. Metrô: Plaza de España L3 e L10, Ventura Rodríguez, L3.


 

Juliana Bezerra escreve neste espaço e no blog Rumo a Madrid.