A bailarina e coreógrafa brasileira Poliana Lima encena sua premiada obra Atávico, no Teatro Canal, dia 25; e dias 3 e 4 de outubro, no Teatro Cuarta Pared, dentro do festival Territorios Danza. Atávico conquistou o primeiro prêmio no XVIII Certamen Coreográfico de Madrid de 2014, além do prêmio de Público e Crítica, e Poliana Lima recebeu uma bolsa para participar do DanceWEBeurope 2015, em Viena e residência artística na Tanzahaus, em Zurich.
Atávico fala das marcas da ditadura nos corpos e na memória. “Este trabalho nasceu de vários questionamentos que fazia: como é um corpo que sofre violência? Como é um corpo que foi manipulado por outros corpos? Como é um corpo sem desejo?” explica Poliana Lima. “Minha preocupação não é fazer a genealogia da violência, ou falar da ditadura em si, mas como isso pode ser vivido e lembrado” conclui a bailarina, natural de São Paulo.
A coreografia mistura profissionais da dança com pessoas com pouca experiência no mundo da dança. No palco, três bailarinos dividem a cena com um ex-aluno de Poliana que está longe dos cânones de beleza consagrados pela tradição. “Se a dança tem uma virtude para mim é que a considero uma grande ferramenta de libertação” reflete a coreógrafa. “Também é uma instrumento de comunicação com o outro e sem passar pela palavra. Respeito e admiro os virtuosos, mas acho que todas as pessoas podem dançar” completa Poliana que dá aulas na Academia Bambúdanza e na Fundación Entredós.
A ideia de montar Atávico vem desde os tempos que morava no Brasil e fazia parte do Coletivo de Artistas Intermitente Abismo de Sonho, de São Paulo, na qual cogitaram a possibilidade de encenar algo com a temática da ditadura, violência e memória. Poliana Lima deixou a companhia e alçou voo para a Espanha, mas a ideia ficou na sua mente. “Li muito material no Brasil e busquei inspiração a partir de várias fontes como Walter Benjamin, de um curta sobre memória corporal e até mesmo da dança japonesa Butô, onde aprendi a valorizar o espaço das costas, pois quando você caminha –como me ensinou o mestre – está levando todo seu passado e carrega todas suas lembranças” reflete Poliana Lima.
Entre a Sociologia e a Dança
Nascida em São Paulo, mas criada em Bragança Paulista, Poliana Lima entrou em contato com a dança através do balé clássico e demais ritmos oferecidos na academia que frequentava. Durante a adolescência, parou de dançar, mas retomaria as aulas de dança contemporânea quando cursava Sociologia, na Unicamp. “Antes de fazer o mestrado, percebi que não queria seguir a vida acadêmica e fui para São Paulo onde fiz meu primeiro estágio na Cia. de Dança Corpos Nômades, de João Andreazzi” conta Poliana Lima que esteve ali de 2007 a 2010. “Mas tive dificuldade com a hierarquia rígida de algumas companhias de dança, ainda mais porque vinha de uma faculdade que me fez questionar muito e alguns diretores não estavam preparados para isso.”
A vinda a Madri se deu de maneira inesperada. No ano de 2010, Poliana se preparava para fazer provas para o mestrado em Artes Cênicas na Unicamp, quando foi avisada que não haveria provas naquele ano. Decidiu visitar a irmã que já morava em Madri, se encantou pela capital espanhola e vive por aqui há cinco anos. “Minha situação não estava regularizada quando cheguei e não podia trabalhar em companhias de dança” relata a bailarina “Como sentia necessidade de dançar, aluguei um estúdio pequeno e comecei a criar minhas coreografias. Minha primeira obra Palo en la rueda (2011) nasceu desta maneira” diz Poliana. Posteriormente, Palo en la rueda receberia o segundo prêmio no I Certamen de Microdanza, de Madri e o primeiro lugar no Festival Vila Real en Dansa (Valência).
Em seguida, Poliana Lima assinou o duo Es Como Ver Nubes com a bailarina lituana Ugne Dievaityte onde realizam os movimentos a partir da cabeça. Para isso, utilizaram várias expressões que falavam sobre a cabeça como “o cabeça do grupo”, “cabeça dura” ou “abaixar a cabeça” e as transpuseram para o palco. Este trabalho foi agraciado no XVI Certamen Coreográfico de Madrid e permitiu uma residência no Teatro Canal, além de oportunidades para se apresentarem na Lituânia. Da mesma forma, a brasileira foi convidada para fazer parte do projeto europeu Performing Gender, que relacionava gênero, sexualidade e identidade com o corpo e a performance
Com tantas atividades e projetos, Poliana Lima ainda encontra espaço para dar aulas e em ampliar a coreografia de Atávico. “Com os prêmios, minhas antigas coreografias estão voltando à cena” comenta Poliana Lima. Melhor para o público que poderá vê-la em ação com mais vezes.
Quem deseja conhecer um pouco de Atávico pode clicar neste link.
Atávico
Bailarinos: Aitor Galan, Lucia Marote, Marina Santo, Poliana Lima.
Quando? 25 de setembro, 22:30.
Onde? Teatro Canal, Calle de Cea Bermúdez, 1. Metrô Canal, L2.
Quanto? 9 euros
Atávico
Bailarinos: Aitor Galan, Lucia Marote, Maria Pallares, Poliana Lima.
Quando? 3 e 4 de outubro, 21h.
Onde? Teatro Cuarta Pared, Calle De Ercilla, 17. Metrô Embajadores, L3.
Quanto? 14 euros. Reserva antecipada pelo telefone 915 172 317 ou neste link. Para assistir todo festival é possível comprar um abono de 24 euros.
Juliana Bezerra escreve neste espaço e no blog Rumo a Madrid.
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