O Festival Bahia-Madrid começará na sexta, dia 9, às 18h, na Casa do Brasil. O Festival surgiu em 2011 com o objetivo de divulgar a cultura afro-brasileira através da música e de dança. “Outra parte importante é a formação, pois cada ano trazemos um mestre diferente de Salvador” conta Sandra Batista, uma das organizadoras do Festival “afinal, cada bloco tem sua particularidade ritímica”. Segundo Sandra há muitos grupos de batucada na Espanha, mas poucos utilizam a voz, por isso “também fomentamos o canto, pois é completamente diferente quando existe a voz e a letra em um grupo de percussão”, completa Sandra, natural de Salvador.

Para o organizador e integrante do grupo de percussão madrilenho Coco Malagão, André Gómez Ortega, estreitar o contato com os mestres da Bahia  é um dos principais objetivos do Festival. “Já tivemos mestres do Oludum, do Ilê-Ayê, e da banda Didá. Este ano teremos Mario Bomba, do Muzenza”  conta André Gómez “Queremos mostrar qual é a origem de tudo, falar do candomblé e da formação dos blocos em Salvador, que é algo muito recente”. Segundo André Gómez, ao ampliar o leque dos mestres convidados, o interesse pelo festival cresceu e hoje atrai gente de toda Espanha para Madri.

hqdefault

Lizandra Duarte, uma princesa no Festival Bahia-Madrid

Além do mestre Mario Bomba, do Muzenza, outra mestra que estará no Festival Bahia-Madrid é a bailarina e coreógrafa Lizandra Duarte, nascida  em Salvador numa família de artistas. O pai foi um dos fundadores do extinto Bloco Melô do Banzô enquanto a mãe era bailarina. No Rio de Janeiro, continou seus estudos de dança e interpretação nas escolas do Sesc e no Senac. Convidada para se apresentar no exterior e dar aulas, se fixou na França em 2008, onde trabalha em várias companhias de dança, entre elas, a Swing Brasileiro, onde atua como coreógrafa.

Em 2015, chegou à finalista do Concurso Beleza Negra do Bloco Afro Ilê Aiyê 2015, onde as candidatas, além da beleza, são avaliadas no quesito dança afro-brasileira. Pela primeira vez na capital espanhola, onde participa dando oficinas de dança afro-brasileira, a convite do Festival Bahia-Madrid, Lizandra Duarte participará do show que reunirá os participantes do Festival na Sala Caracol.

Nesta entrevista, ela nos conta sua trajetória profissional e mostra um pouco do trabalho que será desenvolvido neste fim de semana.

Como surgiu seu interesse pela dança afro-brasileira? 

Através de minha família, pois muito antes de nascer eu já tinha essa raiz, essa veia artística. Meu pai, Lafaite Bonfim, junto com outras pessoas, criou um bloco afro que se chama Melô do Banzô no qual havia percussão e muita dança com intuito de fazer que o negro tivesse seu espaço no carnaval de Salvador.

Minha mãe reinava como a dançarina principal e Rainha do bloco. Hoje os membros do extinto Melô fazem parte do Bloco Afro Malê Debalê do qual hoje sou princesa eleita ao participar do Concurso Negro e Negra Malê 2015. Também estive entre as finalistas do concurso Beleza Negra do Bloco Afro Ilê Aiyê 2015.

Venho de uma família de artistas, e assim sempre vivi no meio da arte, vendo meus tios professores de dança, músicos. A casa onde morávamos no bairro da Saúde, em Salvador, estava sempre repleta de muitos artistas que se encontravam para ensaios das alas de dança de blocos afros de Salvador como Araketo, Muzenza, entre outros e meus pais com toda essa trajetória do Melô do Banzo. Como não ser parte disso? A vida é assim: nos leva às nossas raízes.

Como foi o seu caminho para se profissionalizar como bailarina e professora?

Fui para o Rio de Janeiro onde tive formação acadêmica em Turismo no centro Universitário do Rio de Janeiro. Fiz vários cursos profissionalizantes como teatro e dança contemporânea no Sesc e no Senac.

Seguindo minha trajetória, continuei com o teatro onde fui apadrinhada pela Cia. os Ciclomaticos, no Rio de Janeiro, onde participei do carnaval e de festivais de teatro e fui premiada em peças como “Prosopopeia em cena”. Paralelo ao teatro e à dança, que sempre foi uma paixão, segui com as aulas e apresentações com a Cia. do Sesc. Com o tempo vieram os convites para viagens ao exterior e hoje aqui estou.

Lizandra 3

Por quais países você já se apresentou?

Já viajei por vários países, pois dança me leva mundo a fora. Participei de diferentes grupos, associações e festivais, com espetáculos e ministrando estágios de dança popular, afro-brasileira e samba. Países como: Croácia, Espanha, Alemanha, Rússia, Bélgica, Escócia, Itália, França, Marrocos, Argélia e no continente africano países como Congo, Togo e Benim.

Recentemente você esteve apresentando-se na República do Benim. Como foi a experiência?

Acabo de chegar de uma temporada de 12 dias nas cidades de Cotonou, Ouidah e Porto Novo com a Cia. Swing Brasileiro, da qual sou a coreógrafa. Lá tive a oportunidade de dividir experiências com profissionais locais e aproveitei para conhecer algumas matrizes. Foi incrível escutar os dialetos das tribos, ver os terreiros e o Ifá; para mim, tudo soou muito familiar e foi emocionante.

Falando de manifestações culturais afro-brasileiras, a capoeira já está consolidada no cenário internacional, mas a dança afro-brasileira parece que é mais aceita no exterior que no Brasil. Acha que a dança afro-brasileira também vai chegar ao mesmo status que a capoeira conseguiu hoje?

O Brasil é um país muito grande e rico em arte e culturas a ser explorado e reconhecido e isso serve para todos os meios de arte, cultura e comunicação. A dança afro-brasileira vem ganhando seu espaço dia a dia através de profissionais sérios e capacitados que desenvolvem projetos como o Festival Bahia-Madrid que nos dão a oportunidade de colocar em prática e dividir um pouco do nosso aprendizado, conhecimento e experiência que adquirimos durante ao longo da vida.

Como serão as oficinas de dança afro-brasileira que você dará no Festival Bahia-Madrid?

O meu objetivo com as oficinas de dança é desenvolver um trabalho corporal através da estética dos movimentos afro com base na dança dos Orixás. Aproveito o momento para agradecer a organização do Festival Bahia Madrid pelo convite, confiança e respeito depositados em meu trabalho e amor pela cultura e arte do Brasil. Axé!

Obs: As inscrições para a oficina de danças Afro-brasileiras já estão encerradas.


Um pouco do trabalho de Lizandra Duarte dando aulas pode ser visto aqui:


Festival Bahia-Madrid

Apresentação de Lizandra Duarte e Mario Bomba, Palestra sobre blocos afro-brasileiros, Aula de iniciação ao pandeiro e Mostra de Blocos.

Onde? Casa do Brasil. Av. del Arco de la Victoria 3. Metrô Argueles, L3 e L6.

Quando? 09 de outubro, às 18h.

Gratuito

______________________________________________________

Festival Bahia-Madrid        

Bogi Jui, La Rumba de Pedro Pablo e Coco Malangão (Brasil/Espanha).

Participação especial de Lizandra Duarte e Mario Bomba.

Onde? Sala Caracol, Calle de Bernardino Obregón, 18. Metrô Embajadores, L3.

Quando? 10 de outubro, às 20:30.

Quanto? 10 e 12 euros


Juliana Bezerra escreve neste espaço e no blog Rumo a Madrid.