Karina Buhr, “originalmente” baiana, entrevistada por Flávio Carvalho, “originalmente” pernambucano.

Música, turnê e algo de “Original Olinda Style”…

Primeira parte da entrevista, na véspera do início das viagens de Karina pela Europa.

 

 

FLÁVIO: E aí Karina? Barcelona, Palau de la Música Catalana… Que sabes desses templos da música onde cantarás?

KARINA: Sei que é um lugar absurdamente lindo e todo mundo que já foi ou já tocou lá, me escreve cheio de corações e emoções. Tô bem corações e emoções também. (risos). Maravilha isso.

 

FLÁVIO: Já havias estado antes na Península Ibérica ou Europa? Podes nos falar um pouco de tuas andanças internacionais? Foi com a Banda Eddie tua primeira ida aos Estados Unidos não foi?

KARINA: Com a banda Eddie foi a gravação do disco, em Massachusetts, acho que em 1997. Depois teve turnê com a Comadre Fulozinha (a primeira banda que formei e batizei), que durou 2 meses e passou por muitas cidades pela França, Suiça, Bélgica, Canadá e EUA. Com Antônio Nóbrega toquei no Festival de Avignon. Com o Teatro Oficina, de Zé Celso Martinez Correa, fiz temporada no Volksbühne, em Berlim, com Os Sertões. Com a Comadre Fulozinha também fiz em 2007, no festival Ten Samba, shows em Tenerife e Lanzarote. Toquei com o projeto Bambas 2, de BID, no festival Rio Loco, em Toulouse 2012. Com esse trabalho solo, fiz shows do primeiro disco, o “Eu Menti Pra Você”, na Womex, em 2010 e no festival Roskilde, em 2011.

 

FLÁVIO: Pouquíssimos brasileiros sabem que o Flamenco, ícone da música espanhola, teve um antes e um depois quando um baiano, Rubem Dantas, introduziu o Cajón em discos e shows de Paco e Camarón. Percussão e cordas, guitarra acústica e elétrica, como na Nação Zumbi de Chico Science são revolucionários quando se juntam? Ou revolucionário é o poder da música, universal em si?

KARINA: Acho que revolucionária é toda música de verdade, feita por ela, pra quem toca, pra quem ouve. Pra mim essa questão está aí e não necessariamente na mistura. Existem misturas maravilhosas e muito revolucionárias, mas também existem misturas caretas e simplesmente comerciais. O mesmo acontece com não misturas. Acho Paulinho da Viola muito revolucionário e ai de quem “maltratar o samba tanto assim”. (risos).

 

FLÁVIO: Comadre Fulozinha e Eddie são então teus trabalhos anteriores mais conhecidos? Mulheres percussivas e homens regueiros/roqueiros? De que forma as dualidades da vida perpassam o teu som, na tua vida?

KARINA. Acho que são os pelos que sou mais associada sim. Isso sempre foi parte de mim, sempre gostei de rock and roll, de punk rock, tanto quanto de frevo, baião e côco. Não separo muito. Cada hora é uma coisa e muitas vezes se misturam. Às vezes a mistura não é clara talvez pra quem escute, às vezes é, mas tá tudo sempre ali, são minhas referências, não fica uma dormindo enquanto uso a outra.

 

FLÁVIO: Falando em Pernambuco, aqui na Catalunha eles dizem que uma coisa é “tão longe quanto Pernambuco” (sem nem saber onde é “isso”). Os catalães, principalmente os mais velhos, às vezes dizem isso, quando querem dizer algo como nós dizemos “pra lá de Marraquech”. Já escutei muitas vezes eles dizerem: “Ui! Isso é tão longe quanto Pernambuco!”. Olinda e Recife, Caruaru e Petrolina, Karina, são hoje “longe ou perto” do “centro do mundo”?

KARINA: É tudo Longe de Onde. (risos)

 


 

(também com risos, termina a primeira parte dessa exclusiva entrevista com essa artista muy original, Karina Buhr, que se apresentará em Barcelona, no Palau de la Música Catalã, com entradas quase esgotadas, na próxima segunda-feira).

 

Flávio Carvalho.