Falar de política às vésperas da eleição presidencial mais combativa de todos os tempos, me conduz ao célebre poeta, contista e cronista brasileiro, Carlos Drumond de Andrade:

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Em seu conteúdo, entre outros, o texto fala em Minas – onde nasceram os dois candidatos, mas antes que cause polêmica, deixo claro que nossa intenção não é – em hipótese nenhuma – garantir preferências pessoais por “A” ou “B”, ou criar qualquer alusão pejorativa, até porque foi escrito genialmente por Drumond, muito tempo antes do pleito de 2014.

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No entanto, a maestria do poeta mostra de certa forma, a realidade do momento eleitoral que vivemos no Brasil, onde as propostas se perdem em meio a denúncias de corrupção das duas partes, e a cada momento os dois lados se tornam vulneráveis, afinal, como diz o velho ditado: “não se deve atirar pedra no telhado do vizinho, quando o próprio telhado é de vidro”, além do que, ninguém é perfeito…

Nossa ideia central é a reflexão – levando-se em conta que o futuro dos brasileiros está em jogo, e deveria ser o único foco dos presidenciáveis, só que na prática não tem sido lá a tônica dos debates.

Enfim, em meio a intenso bombardeio, temos observado muitos eleitores literalmente perdidos e alternando convicções entre um e outro, ou seja, o resultado na prática se tornou uma incógnita. E agora, José?