Lembra-se do final da última Era Glacial? Não sei se posso usar aqui a velha frase “bons tempos aqueles”, como se fosse tomado por algum sentimento inexplicado de melancolia. Naquela época, era comum o fato de que milhões de saigas vagavam, talvez felizes, entre a Inglaterra e a Sibéria. Inocentes em suas pastagens, não imaginavam que viveriam grandes desafios ao longo da história e o direito à sobrevivência lhes seria continuamente negado.
 
Indo de um lado para outro, esses antílopes cobiçados e abatidos, por causa dos seus chifres, acabaram chegando às estepes da Ásia Central, onde continuaram a se proliferar. E isso nada tinha a ver com fuga de países em guerra, venezualizados, desemprego em massa ou coisa que o valha. O que colocava essa multidão de seres em marcha era o impulso natural para novas conquistas. No que merecem nosso respeito. Habituadas a caminhar até 80 quilômetros por dia, as saigas viam poucos obstáculos pela frente. Sobretudo porque a palavra ditada pela sua vocação para uma vida com liberdade sempre fora acolhida sem restrições.
 
Estávamos enfiados nas lutas do inesquecível século 20, quando os antílopes quase foram dizimados. Homo sapiens ou “mulher sapiens”, como decretou a sagacidade e inteligência feminista da presidenta, isso pouco importa. Verdade é que sabemos tudo sobre o uso de armas letais – rifles ou palavras – quando o assunto é “acabar com a raça” de alguém ou alguma coisa. Basta que isso nos coloque em posição de aparente superioridade. E então decidimos que o planeta era pequeno demais para homens e antílopes. Foi quando iniciamos a grande matança. Claro que isso não contribuía em nada com o projeto de sustentabilidade. Mas o que importava?
 
A Era glacial, comenta-se, ficou lá atrás, num passado bem distante. Mas conservamos, em local refrigerado, a frieza suficiente para dizimar sonhos e projetos. Mais do que saigas indefesas. Para isso, bastam-nos umas poucas verdades inquestionáveis, meia dúzia de dogmas petrificados e mortais.  
 
Tal como as saigas, nossa caminhada e nossa luta pela sobrevivência seguem em frente. Para onde? Aqui mesmo. Este é o destino. E já chegamos. Agora só nos resta escrever uma história que não coloque tudo a perder. Para isso, não podemos conviver com a ideia de sermos dizimados por interesses egoístas, expressos em decretos que levam a nossa própria assinatura. ®
Foto Rubens 5Rubens Marchioni é publicitário, jornalista e escritor. Sócio da Eureka! Assessoria em Comunicação Escrita. Colunista da revista espanholaBrazilcomz, da canadense BrasilNews e da americana BrasilUsa Orlando. Publicou Criatividade e redação. O que é, como se faz; A conquista.Um desafio para você treinar a criatividade enquanto amplia os conhecimentos e Câncer de mama. Vitória de mãos e mentes, este último sob encomenda. – [email protected]http://rubensmarchioni.wordpress.com