RIO – Destaques do festival que acontece no Vivo Rio de 30 de maio a 1º de junho e cujos ingressos começam a ser vendidos nesta sexta-feira, Ahmad Jamal, Dave Holland e Kenny Garrett, estrelas de diferentes gerações, discutem seus papéis na história do gênero.


Ahmad Jamal, pianista, 83 anos:

Um dos maiores pianistas da história do jazz, que fez do trompetista Miles Davis não só um admirador mas um grande amigo, Ahmad Jamal é um ótimo papo – bom, desde que o jornalista se comprometa a não fazer referências à religião, ao nome que ele tinha antes de abraçar o Islã e ao que alguns críticos de jazz dizem dele. De volta ao Brasil, onde esteve algumas vezes, o músico americano de 83 anos gargalha na ligação ao lembrar da passagem pelo país em 1991, no Free Jazz Festival (“o piano Steinway que me deram no Rio era muito velho e ruim”, entrega) e revela uma conexão brasileira:

 

— Quando saí de Chicago, em 1960, e fui para Nova York, não tinha onde morar. Fiquei no hotel em que o (violonista) Bola Sete estava tocando e morando. Ele foi um dos amigos que eu fiz na cidade.

Em setembro do ano passado, Jamal lançou um álbum de inéditas, “Saturday morning”, que mistura números mais calmos e românticos (“I will always be with you”, “I’m in the mood for love”), com outros cheios de balanço funk (“Back to the future”, “One (Ahad)”). Boa mostra de sua vitalidade, que ele põe à prova no Rio em 1º de junho.

— Você tem que viver uma vida interessante, isso é o que o sustenta como uma pessoa criativa. Você tem que descobrir uma coisa nova por dia e viver ativo. Não há nada de novo sob o sol, então tudo o que você pode fazer é descobrir.

Com um repertório que, segundo ele, reúne suas composições “do passado, do presente e, com sorte, do futuro”, Ahmad Jamal chega ao BMW Jazz Festival com a banda que gravou “Saturday morning”: o percussionista Manono Badrena, o baterista Herlin Riley e o baixista Reginald Veal.

— Nós temos a química. Eu não me importo se você é Leonard Bernstein ou Dizzy Gillespie, tem que ter química!

A questão é: será que o pianista se animará a tocar “Poinciana”? É o tema mais famoso do LP “Live at The Pershing”, de 1958, que ficou 108 semanas nas paradas. Ele não diz nem que sim nem que não.

— Há muitos músicos excelentes. Mas será que eles estão fazendo algo marcante? Eu consegui fazer com “Pershing”. Herbie Hancock fez com “Maiden voyage”. Dave Brubeck fez com “Take five”. Antonio Carlos Jobim fez com a “Garota de Ipanema’. Só que foi Stan Getz que levou vantagem! — provoca.

Dave Holland, contrabaixista, 67 anos:

Alçado ao estrelato ao participar, ainda bem jovem, da banda elétrica com que Miles Davis gravou os discos “In a silent way” (1969) e “Bitches brew” (1970), o contrabaixista inglês Dave Holland, 67, seguiu a vida tocando com outros músicos, formando suas próprias bandas e expressando-se nas mais variadas linguagens jazzísticas. Desta vez, ele vem ao Rio (em 31 de maio) com o repertório e a banda de “Prism”, disco do ano passado, gravado com guitarra e piano elétricos. Uma volta ao fusion, a mistura de jazz, rock e funk que Miles criou há quatro décadas?

— Não acredito que tenha voltado, de forma alguma, ao fusion. Estou sempre pensando em levar a música à frente — explica o simpático Holland, por telefone. — Sei que o contexto, em termos sonoros, com o piano elétrico e a guitarra, ecoa aquela época. Mas o conceito musical certamente é uma extensão do que eu venho fazendo nos últimos anos com os meus grupos.

O músico conta que “Prism” nasceu puramente de sua vontade de tocar novamente com o guitarrista Kevin Eubanks, com quem trabalhara na virada dos anos 1980 para os 90. Logo, integraram-se a eles o pianista Craig Taborn e o baterista Eric Harland, colaboradores próximos de Holland, que preferiu permanecer no seu velho baixo acústico.

— Acho que isso muda muito o som da banda. Apesar de eu ter começado carreira no baixo elétrico, o acústico é meu instrumento primordial, é onde melhor me expresso. E, em “Prism”, há várias canções com piano acústico que poderiam ser vistas como uma extensão do que eu vinha fazendo nos meus discos anteriores — discorre ele, que preferiu cair na estrada com a banda antes de gravar. — As canções estão sempre mudando, o que é a coisa boa de se ter uma banda com continuidade. Cada show é um novo capítulo, uma nova história.

Hoje um veterano do jazz, Dave Holland reflete sobre a sua geração de músicos, que começou sob a asa de Miles.

— Nós aparecemos numa época em que houve uma profunda mudança na música. Eu comecei tocando rock! E aí apareceu a world music, integrando todas essas novas ideias ao jazz — diz o músico, que está longe de ser um saudosista. — Hoje, a gravação está cada vez mais barata, e temos a internet. Temos que ser criativos não só com a música, mas com a forma como se leva essa arte ao público.

Kenny Garrett, saxofonista, 53 anos:

Caçula da turma dos instrumentistas do BMW Jazz Festival, o saxofonista americano Kenny Garrett, 53, tocou com Miles Davis nos últimos cinco anos de vida do trompetista (de 1986 a 1991). Com sua própria banda, gravou uma série de premiados álbuns — o mais recente deles é “Pushing the world away”, do ano passado, que ele vem agora mostrar ao vivo no Rio, em 1º de junho. No CD, ele presta algumas homenagens: ao pianista/tecladista Chick Corea (“Hey, Chick”), ao pianista cubano Chucho Valdés (“Chucho’s mambo”) e ao saxofonista Sonny Rollins (“J’ouvert”).

— Esses gigantes são meus amigos. Eu o Chick nos falamos sempre por telefone. Toco alguma coisa ao piano e ele toca de volta. Queria até que ele tivesse gravado alguma coisa no meu disco, mas ele estava muito ocupado. “Hey, Chick” é o tipo de tema que ele gostaria de ter gravado — conta um animado Garrett, em entrevista por telefone. — Com o Chucho foi a mesma coisa. Eu queria ter gravado um disco em Cuba com produção dele, mas não consegui o visto. Fazemos aniversário no mesmo dia (9 de outubro) e entendemos a música da mesma maneira. Já com Sonny Rollins, é aquilo. Às vezes a gente esquece que ele já tem 83 anos de idade. As pessoas só reconhecem a genialidade de músicos como esses depois que eles morrem. Achei que deveria homenageá-lo ainda em vida.

Acompanhado por uma banda de jovens (a exceção é o experimentado percussionista Rudy Bird, com quem ele tocou no grupo de Miles Davis), Kenny Garrett não deixa nunca de louvar o grande mestre.

— Miles está sempre lá, em mim, na minha música — diz.

No novo disco, Garrett pode ser ouvido tocando piano em “Brother brown”. Mas ele garante que o sax continua a ser a sua voz, o seu instrumento.

— O piano me ajuda na composição, nas harmonias e nos arranjos. É uma ótima ferramenta. Miles tocava piano. Foi Chick Corea que me disse que eu era um pianista, que eu deveria gravar algo tocando.

Mais do que tudo, o saxofonista quer celebrar seu momento musical.

— Posso tocar algo mais straight ahead, mais africano ou mais brasileiro. Tenho uma boa banda que consegue transitar por diferentes estilos.

 

 

A edição 2014 do BMW Jazz Festival aporta no Vivo Rio de 30 de maio a 1º de junho. Os ingressos começam a ser vendidos nesta sexta (25.4). ao meio-dia, pelo site www.ingressorapido.com.br e no local.

Vivo Rio (Av. Infante Dom Henrique, 85 – Parque do Flamengo/ RJ)
Bilheteria: seg a sáb: 12h às 21h e dom e feriados: 12h às 20h

Camarote e Setor Vip – R$ 180
Setor 01 e Frisa – R$ 140
Camarote B – R$ 130
Setor 02 – R$100
Setor 03 – R$ 70
Balcão – R$ 50

Classificação: 15 anos

Programação:

Sexta, 30 de maio, 21h
Bobby McFerrin

Sábado, 31 de maio, 21h
Dave Holland
Chris Botti

Domingo, 1º de junho, 20h
Ahmad Jamal
Kenny Garrett
Snarky Puppy

Informações em http://www.factoriacomunicacao.com/.