Em busca da Identidade

Ator encena em Madri peça sobre a construção da identidade humana

O ator, diretor e escritor paulistano Vinicius Piedade traz a Madri seu espetáculo Identidade, dia 17 de setembro, às 20h, na Casa do Brasil. O monólogo conta a história de um publicitário que acaba de assinar um grande contrato, mas tem uma crise repentina de amnésia. No meio desta situação, o profissional busca ajuda nos seus amigos de adolescência, se esforça para recuperar a memória e, ao mesmo tempo, elabora uma campanha publicitária para uma marca de sabão em pó com a ajuda do público.

Nascido em 1980, Vinícius Piedade – cujo nome é uma homenagem ao poeta e compositor – é autodidata, aprendendo na prática o ofício do “acontecimento teatral” como ele gosta de se referir ao teatro. É a primeira vez que o ator se apresenta na Espanha, apesar se excursionar pela Europa desde 2010. Nesta entrevista, Vinícius Piedade comenta sobre a peça Identidade e das dificuldades encontradas para encenar no Brasil e no exterior.

Como surgiu a ideia do espetáculo Identidade?

Eu estava numa turnê na Europa fazendo um espetáculo chamado Cáceres e já estava muito tempo fora de casa. Tive que fazer uma escala no aeroporto de Frankfurt (Alemanha), e descobri que deveria buscar minhas malas ali e não no destino final. E esqueci, por um momento, qual era a minha mala. E esta pergunta – qual é a minha mala? – em uma situação de estresse, longe da família e dos amigos, gerou outras questões como: quem sou eu? O que estou fazendo neste aeroporto? E isso foi crescendo para “o que estou fazendo no mundo?” Decidi partir dessas questões existenciais e escrever um livro que foi lançado em 2012.

Também me veio a questão que a publicidade, e mesmo a propaganda política, de alguma forma, fazem parte da construção da identidade do indivíduo. O nacionalismo, a cultura, o círculo de amigos, tudo isso faz parte da nossa personalidade e discuto esses temas na peça.

 

Você tem quatro peças no seu repertório, e em três você atua sozinho. Quando começou o interesse por fazer monólogos?

Meu interesse pelo espetáculo solo veio quando ainda era moleque e trabalhava de dia e estudava à noite; e assim ficava difícil me encontrar com outras pessoas para ensaiar. Desta maneira criava as minhas próprias cenas e todas as semanas frequentava, e às vezes me apresentava, no sarau do KVA, um espaço cultural de São Paulo. O KVA foi um momento de experimentação artística, tinha um público como cobaia e eu era a cobaia deles! (risos)

Então, comecei a me interessar por esta linguagem e a beber das referências dos artistas que seguiram esta trajetória dramatúrgica, corporal, estética e que tem muito jogo com o público, pois não faço o monólogo clássico onde o ator está em um lugar e a plateia está longe. Acredito no teatro não como representação e sim como um acontecimento. Por isso chamo as apresentações de “acontecimento teatral”.

E quais seriam suas principais referências para construir suas peças?

São muitas! Posso citar as mais óbvias como o (inglês) Peter Brook, (o polonês) Jerzy Grotowiski, com seu “teatro pobre” e (o francês) Antoine Artaud com o “teatro cruel”. Sou autodidata, minha trajetória foi essencialmente prática, trabalhando com Denise Stoklos, Antonio Abujamra, Luis Louis, Gianni Ratto, por exemplo. Mas um curso essencial que fiz foi justamente sobre teatro solo chamado “Solos do Brasil”.

Gostaria de saber mais a respeito da turnê pela Europa. Em quais países você vai atuar?

Vou passar por Portugal, França, Espanha, Alemanha. Quando saio em turnê, apresento as quatro peças do meu repertório. Em Portugal farei Identidade e Carta de um pirata; e na Espanha, Identidade.

Como é para você, ator brasileiro, falando em português, se apresentar por aqui?

Minha teoria é muito simples: o teatro tem que ir onde as pessoas estão, e elas estão em todos os lugares. Quando construo uma obra, busco fazer com que as peças sejam universais porque não procuro que o teatro seja acessível apenas ao intelectual. Quero fazer um refinamento que seja acessível a todas as classes sociais e às pessoas de culturas diferentes. Acho que o teatro é uma arte popular e muitas vezes as pessoas nem sabem o que é. Por isso, ele se torna algo elitista. Cultura é hábito, ir ao teatro é hábito e quando as pessoas têm acesso à arte, elas adoram.

Que tipo de público vai às suas peças no exterior?

A comunidade brasileira vai em peso porque as pessoas têm saudade de ouvir uma obra em seu idioma, e os nativos vão levados pelos amigos. Ainda não me sinto seguro para atuar em outro idioma, mesmo que tenha interesse para fazê-lo, por isso represento em português e com legendas.

Como você faz para divulgar seu trabalho junto ao público tanto de expatriados como dos moradores do país?

Nesse caso, temos que atrair pela obra, pelo conteúdo. Porque a pessoa vai não pela obra ou pelo ator, mas porque ela vai se divertir e degustar a obra e se emocionar e vivenciar.

Mas isso não é só no Brasil, tenho que trabalhar estas questões também na Alemanha. Por que um alemão vai querer assistir uma peça legendada? Em Nova York, com aquela cena teatral imensa, porque alguém iria me ver? E mesmo no Brasil você tem muitos espetáculos que não são de artistas da TV e que ficam em cartaz.

Afinal, a vida de artista é sempre um recomeço, sobretudo estando em turnê, pois me apresento em espaços diferentes e para públicos muito distintos. Atuar é sempre um desafio em todo o mundo e não só no Brasil.

Onde? Casa do Brasil

Quando? 17 de setembro, às 20h

Gratuito

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