O primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, considerou hoje “parciais” e “inapropriadas” as declarações do papa sobre o genocídio armênio. “Abordar esses acontecimentos dolorosos de forma parcial é inapropriado por parte do papa e da autoridade que ele representa”, declarou Davutoglu na televisão, quando a Turquia anunciou ter convocado para consultas o seu embaixador no Vaticano. A decisão de Ancara constituiu um novo passo no incidente diplomático suscitado depois de o papa ter usado a palavra “genocídio” para descrever o massacre dos armênios na 1ª Guerra Mundial.
“O nosso embaixador no Vaticano, Mehmet Pacaci, foi chamado à Turquia para consultas”, informou em comunicado o Ministério dos Negócios Estrangeiros turco, para explicar as palavras do papa.
Repetindo declarações feitas também hoje pelo chefe da diplomacia turca, Mevlut Cavusoglu, o comunicado afirma que as palavras do papa Francisco são “incompatíveis com os fatos legais e históricos”.
O texto acusa o papa de ter uma “visão seletiva” da 1ª Guerra Mundial e de “ignorar as atrocidades sofridas pelos povos turcos e muçulmanos que perderam a vida” para beneficiar cristãos e armênios.
As palavras do papa são “um desvio grave” da mensagem de paz e reconciliação que levou à Turquia na visita que fez ao país em novembro de 2014, destaca o texto.
O papa Francisco usou hoje a palavra “genocídio” para descrever o massacre dos armênios pelas forças do Império Otomano durante a 1ª Guerra Mundial.
“No século passado, a humanidade passou por três tragédias sem precedentes. A primeira, que foi largamente considerada como ‘o primeiro genocídio do século 20′, atingiu o povo armênio”, disse Francisco numa missa na Basílica de São Pedro, em Roma.
“As duas outras [tragédias humanas] foram praticadas pelo nazismo e pelo estalinismo. E mais recentemente outros extermínios de massa, como no Camboja, em Ruanda, Burundi ou na Bósnia”, acrescentou, citando pelas agências internacionais de notícias.
As declarações do papa foram feitas na abertura de uma missa em memória dos armênios massacrados entre 1915 e 1917, concelebrada com o patriarca armênio e na presença do presidente da Armênia, Serzh Sargsyan.
Segundo a agência France-Presse, o papa João Paulo II usou o termo “genocídio” num documento assinado em 2000 com o patriarca armênio, mas esta é a primeira vez que um papa fala publicamente do assunto.
Milhares de armênios foram deportados e massacrados pelo império otomano durante a 1ª Guerra Mundial, fatos reconhecidos como genocídio por mais de 20 países mas nunca pela Turquia.
Segundo a Armênia, 1,5 milhão de pessoas foram perseguidas e mortas, enquanto, para a Turquia, o número de armênios mortos não supera os 500 mil e se enquadra nos combates que se sucederam ao levantamento das populações armênias contra os otomanos.
Com informações da Agência Brasil
Por: Agência Lusa – Agência Brasil
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( Texto retirado na íntegra )
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