O alicerce da vida em Cristo é o amor. O puro amor é o ingrediente que não deixa a fé desandar nem a caridade virar barganha.

Somos sedentos de amor. Famintos de amor. Usando trancas e ferrolhos, vigiamos sua entrada e sua saída. Não vivemos o presente do amor. É nossa natureza: tosca, viciosa, frenética.

O mal existe e nos visita diariamente. Não há quietude neste mundo. A dor e a injustiça são forças que nos torcem, nos oprimem, nos derrubam.

No entanto, é possível entrever nos corações mais incrédulos essa certeza inata de que nascemos para a bem-aventurança, para a vida em sua plenitude, para a união com o outro, para o perdão. Pequenos rastros de beleza e doçura nos sugerem um caminho venturoso. Força que irradia do meu triste vazio e me arrebata… para o mundo, para as cores, para o sol, para as estrelas, para a lua, para o ar, para os arroubos dos ventos, para a purificação das águas, para o amor… Certeza incondicional. Fé. Abandonar-nos nessa força capaz de subverter a gravidade!

Sem amor, somos uma triste orquestra destoante, já disse o apóstolo Paulo aos Coríntios (I. 13) E disse mais: “O amor é paciente, prestativo, não é invejoso nem se vangloria, não se incha de orgulho, não falta com o respeito, não se irrita, não planeja o mal. Desculpa, crê, espera, suporta.”

O amor cristão se projeta além da carne. O Cristo, que se ofereceu em holocausto por nós, pede gentilmente que aceitemos o outro com suas distorções, assim como nós nos aceitamos. Pois o outro não é o espelho embaçado de nossa face.

Como aspiro este amor em mim! Este amor que aceita, que não impõe vontade, que não se mata de ciúme e de orgulho. Canto harmonioso que traz consigo o sossego de Deus, nascente perene e fecunda de alegrias e sorrisos, de ingenuidades extraordinárias, de colóquios desafetados, de abraços que ficam e suplantam o apressado desejo.

 

 

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