“Meu computador foi invadido por hackers. Levaram todos os meus dados sigilosos. Tornei-me refém desses caras. Agora, enquanto não resolver esse problemão, vou ficar com mais uma dor de cabeça pra roubar o pouco que ainda me resta de sono e de paz. Ninguém merece.”  
 
Assim começou o relato sombrio da minha amiga Elisabeth. Ela era a personagem de uma peça teatral, em cartaz na universidade onde estuda Tecnologia da Informação e coleciona as melhores notas.
 
A garota demonstra uma incrível intimidade com o idioma e seu dialeto construído por expressões como base, rotina, memória, interface, senha, trilha, rede, macrolinguagem e multiprogramação. Isso, dentre outros que esta mídia, séria, e o horário, não me permitem incluir.
 
Se o leitor não se importa, gostaria de levantar uma questão, especialmente dirigida àqueles que não puderam se conter e torceram o nariz frente à palavra “hacker”. Não é preciso gastar muitos neurônios para se chegar à conclusão, evidente, de que eles podem ser de grande utilidade para empresas e governos avessos à ideia de estar representados pelo personagem fictício de Elisabeth.
 
Em 2011, dois hackers holandeses, ainda jovens, encontraram vulnerabilidades em empresas respeitáveis como o Facebook, Google, Apple, Microsoft e Twitter. Além de outras 95 companhias, acima de qualquer suspeita nesse aspecto.
 
Do limão, uma limonada. Agora os garotos dirigem uma start-up, cujo foco é mediar empresas com dificuldades de segurança cibernética e outros hackers. Os novos empresários vão contribuir para resolver problemas que antes seriam irresponsavelmente causados por eles e seu grupo.
 
Diz a lenda que todos – empresas e hackers – estão felizes. O drama conseguiu encontrar o caminho para a sua melhor tradução em termos de serviços.
 
Ao menos por hora, fecham-se as cortinas e podemos descansar em paz. O público, outra vez, aplaude em pé. ®
 
 
▪ PALAVRA DE ESCRITOR. Ao escrever, a questão da escolha de um tema esbarra, frequentemente, em momentos conflitantes na vida e na carreira do escritor. Quando muito jovem, e ainda sem se conhecer com a devida profundidade, nem sempre ele tem algo relevante a dizer. Às vezes, ao descobrir uma mensagem, um conteúdo, já não conta com disposição física e mental para fazê-lo. Depois de algumas turbulências, que sempre acreditamos contribuir para o amadurecimento e consequente retorno à atividade literária, pode-se voltar ao trabalho criativo, com grandes chances, não absolutas, de um bom resultado. Alguns escritores se saem bem ao tomarem o caminho de falar da própria infância, uma vez que a conhecem o suficiente para tomá-la como matéria-prima, ou de alguma fantasia, quem sabe. Verdade é que, não raro, abandonam o trabalho literário depois dessa experiência, sem conseguir repeti-la com sucesso.
 
Foto Rubens 5Rubens Marchioni é publicitário, jornalista e escritor. Sócio da Eureka! Assessoria em Comunicação Escrita. Colunista da revista espanhola Brazilcomz, da canadense BrasilNews e da americana BrasilUsa Orlando. Publicou Criatividade e redação. O que é, como se faz; A conquista. Um desafio para você treinar a criatividade enquanto amplia os conhecimentos e Câncer de mama. Vitória de mãos e mentes, este último sob encomenda. – [email protected]http://rubensmarchioni.wordpress.com