É claro que nem tudo na vida tem de ser vinho e champanhe de primeiríssima linha, importados de países mestres na arte de criar e produzir tais maravilhas. É claro que não.
 
Também é claro que nem tudo tem de ser Globonews Literatura ou Em Pauta. Nem Manhattan Connection. Nem Jornal da Cultura. Nem Café Filosófico ou Provocações, apenas para citar alguns exemplos. Programas e leituras inteligentes, que acrescentam massa crítica, fazem pensar e questionar. Atrações que entregam o que a escola não conseguiu fazer. É claro que não.
 
Às vezes, a gente precisa de cachaça. E em algumas circunstâncias ela cai muito bem. Mas, por favor, que seja de boa qualidade. Não uma pinga qualquer, veneno que se vende sem receita. De preferência, algo produzido artesanalmente. E servido em copo adequado para essa bebida cheia de uma personalidade muito própria. Mais ainda: em boa companhia e com um bom papo. [Com alguma elegância e requinte, se não se concluir daí que estou indo longe demais.]
 
Às vezes, a gente precisa descontrair. Isso é saudável. Tomar distância do rigor de que se revestem alguns conteúdos. Queremos o que não é muito embasado, com citações e notas de rodapé. Mas, por favor, que não subestime a nossa inteligência. Que não elimine a massa crítica acumulada ao longo do tempo e à custa de muito esforço. Que não nivele tudo por baixo. Que preserve um mínimo de refinamento, sempre indispensável.
 
Ora, a vida não pode ser reduzida à arte de conviver com matéria prima bruta. Nem com conteúdos meramente factuais, oferecidos sem qualquer reflexão. Senão vejamos: o que o leitor ou telespectador ganha ao ser informado de que um carro capotou na Avenida Tal e os seis passageiros morreram na hora? Ou que fulano foi preso, enquanto encontraram o corpo de não sei quem, assassinado com 16 facadas? A quem interessa esse festival da desgraceira? Por que eu me colocaria à disposição desse pseudojornalismo que envergonha gente séria?
 
Convém lembrar que a qualidade sofrível da educação, no Brasil, já se encarregou de prestar esse desserviço, que consiste em empurrar tudo para baixo – nisso, ela é mestra. Portanto, ninguém precisa se esforçar ainda mais neste sentido. Aqui entre nós, a gente precisa disso tanto quanto necessita de uma boa dor de dente.     
 
Se não reagirmos, sem nos dar conta do fato, estaremos extasiados diante do Domingão do Faustão, Pânico, Silvio Santos, policiais como Cidade Alerta, Brasil Urgente e Balanço Geral; Michel Teló, MCs, SPTV, Jornal Nacional, Fantástico, homofobia, pena de morte, racismo… Isso sem contar a literatura banal e pobre que está por todo canto e demais atrocidades oferecidas com insistência por empresas do ramo do entretenimento. Estaremos achando tudo lindo, normal e até desejável. Um final melancólico e desgraçadamente triste para a vida cultural, que já não é das melhores. ®
 Livros
 
Rubens Marchioni é publicitário, jornalista e escritor. Sócio da Eureka! Assessoria em Comunicação Escrita. Colunista da revista espanhola Brazilcomz, da canadense BrasilNews e da americana BrasilUsa Orlando. Publicou Criatividade e redação. O que é, como se faz; A conquista. Um desafio para você treinar a criatividade enquanto amplia os conhecimentos e Câncer de mama. Vitória de mãos e mentes, este último sob encomenda. – [email protected]http://rubensmarchioni.wordpress.com