Os rebeldes pró-russos libertaram neste sábado os sete inspetores militantes da OSCE retidos na Ucrânia. Terminam assim oito dias de tensão nos quais os líderes ocidentais -com uma especial insistência por parte da Alemanha- exigiram a libertação sem que houvesse alguma condição em troca e apontaram as autoridades de Moscou como as responsáveis por libertá-los. A equipe, formada por quatro alemães (entre eles um tradutor), um checo, um polonês e um dinamarquês, aterrissa na tarde deste sábado em Berlim, onde serão recebidos pelos ministros da Defesa dos quatro países.
A libertação dos militares, enviados para a Ucrânia em uma missão liderada por um coronel alemão, elimina um foco de tensão, mas coincide com o agravamento do conflito depois da morte de meia centena de ativistas pró-russos na cidade de Odessa.
A princípio, os rebeldes que capturaram a equipe da OSCE (Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa) descreveram os retidos como prisioneiros de guerra. Depois de alguns dias exibindo dureza, o autoproclamado prefeito popular da cidade de Slaviansk, Vyacheslav Ponomaryov, acabou por libertá-los depois que o presidente russo, Vladímir Putin, enviou um negociador. “Como prometi, celebramos ontem meu aniversário, e eles se foram. Já disse que eram meus hóspedes”, disse à agência Reuters. “Fomos bem tratados. Mas não pode ser dito que éramos seus convidados”, respondeu um dos libertados nas declarações ao canal alemão n-tv.
Ponomaryov apresentou a libertação como um ato de boa vontade, mas a pressão ocidental foi fundamental. “A Rússia deve assumir as suas responsabilidades. E para isso, temos que encarar os fatos. Ainda não libertaram os prisioneiros da OSCE. Este é um passo importantíssimo”, avisava na sexta-feira de Washington a chanceler Angela Merkel, imitada por seu anfitrião, o presidente Barack Obama. Em uma declaração conjunta, os ministros alemães de Assuntos Exteriores e de Defesa mostraram sua alegria pela libertação e agradeceram as manobras a Vladímir Lukin, o enviado de Putin à zona para solucionar o conflito.
A retenção dos inspetores da OSCE teve repercussões no debate político alemão nesta semana. O antigo chanceler Gerhard Schröder recebeu uma onda de críticas por uma fotografia tirada na segunda-feira passada em que abraçava calorosamente o presidente russo em uma festa organizada em sua honra em São Petersburgo. Philip Missfelder, porta-voz de política exterior do partido democrata-cristão, que também assistiu ao ágape, sentiu a necessidade de se defender no popular diário Bild na sexta-feira passada. “Pudemos falar com Putin sobre a libertação dos prisioneiros. Acho que é melhor aproveitar estas possibilidades para dialogar”, disse depois da enxurrada de críticas recebidas.
Os oito inspetores da OSCE -um sueco doente por complicações da diabetes foi libertado no domingo passado por motivos humanitários- faziam parte de uma missão militar organizada sob o guarda-chuva da Convenção de Viena, um acordo assinado pelos 57 membros da OSCE (incluindo a Rússia) em 1990 para fomentar o controle de armas e a confiança entre países.
Há outros observadores desta organização em solo ucraniano, mas os retidos se diferenciam por ser militares e por informar diretamente a seus ministros de Defesa. O Governo da Ucrânia solicitou em março que militares desarmados de outros países inspecionassem o terreno pelas suspeitas de movimentos militares incomuns. Diferentemente da missão de observadores civis, o envio de militares ocorreu somente através de acordos bilaterais e não requer o consenso entre todos os membros da OSCE. É por isso que a Rússia considerava uma “provocação” e uma “irresponsabilidade” a presença de militares da UE em solo ucraniano.

 

FONTE: EL PAÍS