Estávamos em Palma de Mallorca, cada um “na sua praia”, pra trabalhar no Consulado Itinerante realizado pelo Consulado-Geral do Brasil em Barcelona, naquela cidade das Ilhas Baleares espanholas. Chovia bastante. E acabamos não indo às belíssimas praias mallorquina. Como velhos amigos que acabavam de se conhecer, passamos a noite comendo hambúrguer com cerveja e falando de Olinda com batatas fritas.

Coincidimos de estar hospedados na casa da Presidente da Associação Amigos do Brasil em Baleares, Sandra Franco. João começou a fazer caretas pra sair nas fotos do aniversário da neta de Sandra. Um amigo me disse que você pode descobrir um bom ator pela quantidade de caretas que ele é capaz de fazer em poucos segundos. Quem aqui já viu João fazendo caretas?

Eu nem imaginava, naquela época, que Joãozinho Compasso fosse pernambucano da gema, como eu. Também não imaginava que eu voltaria a escrever pra Revista Brazil com Z, quando ele me chamou, já sendo o novo editor. Antes dele pensar que um dia editaria essa revista, eu já tava me oferecendo pra escrever, de graça, pra ela. Ele vinha com o caju e eu já comendo a castanha…

Um dia desses, pensamos em montar uma dupla de embolada. Daquelas de pandeiros na praça. Vocês sabem o que é isso? Melhor que esqueçam. Não é bem verdade. E eu creio que não daria certo.

João, meu filho menor, já havia nascido. Mas eu brinco sempre com Compasso, dizendo que o nome do meu primeiro filho é uma grande homenagem a ele.

Já há alguns anos, cada dia 5 de cada mês, ele cumpre nossa rotina: lembra-me que chegou o dia de escrever e enviar meu artigo pra revista do mês; depois ele vem com aquela tesoura amolada, de bom editor (daqueles que te ajudam a escrever somente o essencial – no curto espaço de uma página, a última da revista); por fim, compartilhamos o feedback do Quixot Macunaíma. Esse é o nome da minha coluna. Aliás, que se chamava Dom Quixote e o Alienista, mas, falando com João, por aproximações literárias, mudamos. De fato, já falamos sobre isso: eu sigo escrevendo há tantos anos na Brazil com Z, por 3 motivos. Primeiro porque sou voluntário, e isso me dá liberdade total de expressão. Depois pelo meu editor, que me dá liberdade total de expressão. E, por último, e mais importante, porque eu gosto.

O que eu não imaginava é que algum dia estivesse escrevendo sobre o cara depois de tomar um susto ao ver sua foto no Big Brother Espanha, quero dizer, no Gran Hermano da televisão espanhola. Ele sempre me disse que a sua praia era ser ator… Pra não dizer que eu não falei das praias.

Certa vez perdi seu rumo. O cara estava aqui em Madri, no outro dia em Londres e daí já estava em algum país do oriente, tão longe, que nem lembro o nome. Nunca mais esqueci o nome do projeto, isso sim: Silent Voices. Eu, que vivo metido em projetos sociais, disse logo pra ele: “Joãozim, pro que tu precisares de mim, já podes contar comigo”! E nem é mero corporativismo pernambucano, asseguro.

Agora tô eu aqui, sexta-feira de manhã, em Barcelona, e nossos colegas jornalistas lá de Recife me telefonando pra perguntar se esse Compasso é o mesmo cara que eu conheço.

Relendo esse texto aqui, antes de publicar, eu pensei que parecia um obituário. Aquelas colunas pra falar de alguém que já morreu. Deve ser porque me falta o editor com seu olhar melhorativo.

Que nada! Vocês não perdem por esperar…

João Compasso está vivíssimo. E isso é só o seu começo.

Recife também já deu: régua e Compasso.

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