Mais de 1.300 pessoas foram infectadas e 729 morreram na África Ocidental em decorrência da pior epidemia de ebola da história. Órgãos de saúde do mundo todo estão atentos ao risco do surto se disseminar para outros países e cruzar continentes.

Na quinta-feira, o governo brasileiro reforçou recomendações às equipes de saúde encarregadas de atender passageiros que apresentaram durante a viagem ao Brasil problemas como febre, diarreias ou hemorragias. A medida, na avaliação do Ministério da Saúde, é suficiente para identificar de forma rápida casos de uma eventual contaminação por ebola em viajantes. Normas mais drásticas, como a suspensão de voos, não estão sendo analisadas.

A possibilidade da chegada do ebola ao Brasil é considerada baixa pelo Ministério da Saúde. O infectologista Esper Kallás, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, faz o mesmo diagnóstico. Um dos motivos, segundo o médico, é que a gravidade dos sintomas dificulta a locomoção de doentes e o contato com muitas pessoas. “Os sinais da doença são perceptíveis e o paciente fica extremamente debilitado“, diz Kallás. A enfermidade começa a se manifestar com febre, fraqueza e dores musculares, de cabeça e de garganta. Em seguida, vêm vômitos, diarreias, feridas na pele, problemas hepáticos e hemorragia interna e externa.

Contágio – A transmissão ocorre pelo contato de sangue, secreções e fluidos corporais de doentes, não pelo ar. Por esse motivo, quem corre mais risco de contaminação são familiares de doentes e profissionais de saúde. “Num avião, por exemplo, a probabilidade de uma pessoa infectada transmitir a doença aos indivíduos ao redor é baixa, mesmo no período de incubação, que vai de duas a três semanas“, diz Kallás. Esse é um dos motivos pelos quais o ebola nunca saiu da África em quase quarenta anos de existência.

Viagens à África – Não existe uma recomendação do governo brasileiro para que as pessoas deixem de viajar a países endêmicos. “A situação nesses países se agrava, pois são regiões em conflito, nas quais os profissionais de saúde muitas vezes têm dificuldades para chegar. Mas, pelas características de transmissão da doença, não há risco de disseminação global“, afirmou na terça-feira o ministro da saúde, Arthur Chioro.

Não é a leitura das autoridades de saúde americanas, que na quinta-feira elevaram ao nível máximo o alerta de viagens para Guiné, Libéria e Serra Leoa. “Pedimos para que não façam viagens à zona afetada a menos que seja essencial. Precisamos evitar o risco de contágio e ajudar os países a controlar a doença“, disse Tom Frieden, diretor do Centro para Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos.

Entenda o surto de ebola na África

Em quase quarenta anos de existência, vírus nunca foi detectado fora da África (Tommy Trenchard/Reuters/VEJA)

Em quase quarenta anos de existência, vírus nunca foi detectado fora da África (Tommy Trenchard/Reuters/VEJA)

A epidemia de ebola no oeste da África é a pior de que se tem registro na história. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 887 pessoas morreram na região por causa da doença, levando autoridades de saúde da Guiné, Libéria e Serra Leoa a correr contra o tempo para tentar controlar o vírus.

 

O que é o ebola?

Ebola é uma doença causada por um vírus cujos sintomas iniciais incluem febre, fraqueza extrema, dores musculares e dor de garganta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). À medida que a doença avança, o paciente pode sofrer de vômitos, diarreias e – em alguns casos – hemorragia interna e externa.

Humanos contraem a doença por meio do contato com animais – como chimpanzés, morcegos e antílopes – contaminados.
Entre humanos, o vírus pode se espalhar por meio do contato direto com sangue contaminado, fluidos corporais ou órgãos do doente, ou mesmo por meio do contato com ambientes contaminados. Até funerais de vítimas de ebola podem representar risco, se outras pessoas tiverem contato direto com o corpo do defunto.

O período de incubação pode demorar de dois dias a três semanas, e o diagnóstico é difícil. Em humanos, a doença está limitada majoritariamente à África, embora um caso tenha ocorrido nas Filipinas.

Agentes de saúde pública também correm risco caso tratem pacientes sem tomar as precauções adequadas para prevenir a contaminação.

As pessoas permanecem contaminadas enquanto seu sangue e suas secreções contiverem o vírus – em alguns casos, até sete semanas depois da recuperação.

Agentes de saúde pública estão entre os que mais correm risco de contrair o Ebola

Onde a doença ocorre?

Surtos de ebola têm ocorrido primariamente em vilarejos remotos da África Central e Ocidental, segundo a OMS.
A doença apareceu originalmente na República Democrática do Congo (quando se chamava Zaire), em 1976. Desde então, se espalhou para o leste, afetando países como Uganda e Sudão.

O surto atual tem a particularidade de ter se iniciado na Guiné, que nunca tinha registrado um caso antes, e de estar se espalhando por áreas urbanas. De Nzerekore, uma área rural no sudeste da Guiné, o vírus chegou à capital, Conakry, e aos países vizinhos Libéria e Serra Leoa.

Um homem que viajou de avião entre a Libéria e Lagos (Nigéria) em julho foi mantido em quarentena ao desembarcar e depois morreu por causa do ebola – o primeiro caso na Nigéria. Um dos médicos que o trataram foi infectado e oito pessoas com quem ele teve contato agora estão em isolamento.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) qualifica o surto de “sem precedentes“, pois os casos se distribuem por áreas separadas por centenas de quilômetros na Guiné. A ONG diz que a tarefa de acompanhar pessoas que tiveram contato com pacientes de ebola é uma “corrida contra o relógio”.

 

Que medidas estão sendo tomadas contra o ebola?

Banco Mundial anunciou que destinará US$ 200 milhões em caráter de urgência para ajudar Guiné, Libéria e Serra Leoa a conter a epidemia de ebola. Centenas de soldados na Libéria e em Serra Leoa foram mobilizados para conter o pânico nas comunidades afetadas e transportar equipes médicas de um vilarejo a outro.

A Libéria já fechou escolas e a maioria das suas fronteiras e colocou em quarentena as comunidades onde o vírus foi encontrado.
Em julho, a morte de um renomado médico liberiano, Samuel Brisbane, ajudou a propagar os esforços de comunicação do governo sobre o vírus. Em Serra Leoa, o médico que liderava os esforços contra a doença também se converteu em uma de suas vítimas.

As companhias aéreas Asky e Arik Air, que operam no Oeste da África, suspenderam seus voos para Libéria e Serra Leoa. Testes mais rigorosos estão sendo realizados em aeroportos.

No início do surto atual, o Senegal fechou sua fronteira com a Guiné.
Países asiáticos, como China e Vietnã, também estão se mobilizando para evitar a entrada do vírus em seu território, com ações como o monitoramento mais criterioso de passageiros nos aeroportos.

 

Quais são as precauções a ser tomadas?

Segundo a OMS, evitar o contato com pacientes de ebola e seus fluidos corpóreos. Não tocar nada em ambientes públicos que possa carregar o vírus – por exemplo, toalhas de mão.

Quem estiver cuidando de pacientes de ebola precisa usar equipamento de proteção, como luvas e máscaras, e lavar bem as mãos regularmente.

Populações em áreas rurais estão sendo aconselhadas pela OMS a não consumir carnes cruas de animais selvagens e manter a distância de morcegos, macacos e primatas. Alguns tipos de morcegos são considerados iguarias na Guiné, onde o surto teve início.

Em março, o Ministério da Saúde da Libéria aconselhou as pessoas a evitar sexo; o vírus pode ser transmitido pelo sêmen, mesmo até sete semanas depois da eventual recuperação de um paciente, observa a OMS. As recomendações já eram de evitar apertos de mão e beijos.

 

O que fazer quando se contrai o vírus?

Manter-se em isolamento e procurar ajuda médica profissional. A chance de sobrevivência aumenta se o paciente começar a receber tratamento imediatamente.

Não existe vacina para o vírus, embora algumas, assim como tratamentos clínicos, estejam em testes.
Como os pacientes ficam desidratados rapidamente, a recomendação é beber líquidos que contenham eletrólitos ou receber fluídos por via intravenosa.

Segundo a Médicos Sem Fronteiras, o atual surto é causado pela variedade mais agressiva do ebola, matando entre 50% e 60% das pessoas que infecta.

Não se sabe que fatores determinam que alguns pacientes se recuperem e outros sucumbam.

 

 

FONTE: Veja / BBC BRASIL