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Atualmente a Espanha é um país predominantemente católico, branco e de idioma de origem latina. Mas durante um período de quase 800 anos, o que hoje corresponde a Portugal e Espanha faziam parte do mundo muçulmano e árabe. Vamos conhecer um pouco dos antigos mouros que habitavam a península Ibérica, além do seu legado e construções.

Tempos anteriores…

A península Ibérica era habitada por povos primitivos que ainda viviam de forma paleolítica até a chegada dos fenícios, que fundaram algumas cidades ao longo da costa leste. Após os fenícios, vieram os cartagineses (descendentes de fenícios com africanos) e gregos, este último batizou a região de Ibéria, denominação que existe até hoje.

Em 218 a.c os romanos invadem a península, primeiro ocupam os antigos territórios cartagineses e depois iniciam o processo de romanização do território, tendo resistência dos povos lusitanos, mas depois de um longo conflito, finalmente foram derrotados e romanizados. Uma vez dominada e romanizada, a Península foi dividida em três províncias: Lusitânia (capital: Emérita Augusta, hoje Mérida), Bética (capital: Corduba, hoje Córdova) e Terraconensis (capital: Tarraco, hoje Terragona). Olisipo foi fundada pelos romanos e atualmente é a cidade de Lisboa, capital de Portugal.

A Hispânia romana durou até o século V, quando os Visigodos, povo bárbaro germânico, invadem a região e põe fim ao domínio romano. Entre os séculos V e VIII, a região foi governada pelo reino visigótico, e no noroeste da península pelos povos Suevos, também germânico, eles assimilaram muito da cultura romana, embora, escolas, vestimentas, educação, exército e organização política tivesse sido totalmente diferentes dos antigos romanos, a mistura do idioma germânico e latim, deu origem a um primitivo espanhol e português, diferente do que conhecemos hoje em dia. Adotaram o cristianismo católico como religião oficial, embora havia muitos judeus na região. Foi o único povo bárbaro a fundar cidades na Europa medieval, da queda do Império Romano até o renascimento comercial no século XI.

Invasão Árabe

 No ano de 711 do século VIII da nossa era, o general Tarik comanda tropas muçulmanas para uma invasão a península ibérica, aproveitando a fragilidade política visigoda, devido a disputa de poder. A vitória foi rápida, e contou com o apoio de minorias que eram perseguidos pelos cristãos, como os judeus. Os visigodos que ficaram, assimilaram aos muçulmanos, mantendo-se cristãos, mas submissos as leis dos Árabes, conhecidos também como moçarábes, os que formaram resistência, refugiaram-se nas montanhas do extremo norte, formando o reino das Astúrias, que mais tarde iniciaram a guerra da reconquista, que durou até 1492, já na idade Moderna. Com a consolidação da conquista, iniciou o processo de administração da região, a península ibérica passou a se chamar Al-Andalus, com a capital Córdova. O califado de Córdova se tornou independente e próspero por vários séculos. Os árabes foram tolerantes com os vencidos e promoveram um intenso desenvolvimento na região, cristão, judeus e muçulmanos viviam dentro de um espírito de tolerância e respeito, embora a população não muçulmana pagasse mais tributos e eram proibidos de exercer cargos públicos. A maior parte da população continuou etnicamente europeia, porém arabizada em suas vestimentas e modo de vida, e foram se convertendo ao islamismo gradualmente, embora fosse permitida a liberdade religiosa; haviam grupos de eslavos, que inicialmente eram escravos, mas depois de um tempo foram ganhando liberdade, haviam os judeus; e negros da África subsaariana, que também eram escravos inicialmente e depois foram ganhando liberdade e ocupando cargos importantes. Árabes e Mouros eram os líderes militares, políticos e intelectuais, mas no geral formavam uma minoria numerosa na população total, o típico físico marcante da Espanha muçulmana era o mouro, também conhecido como mourisco, os mouros eram originários na região do Atlas, no atual Marrocos, eram negros, embora com características negroides menos intensas que os negros da África subsaariana, mouro significa pessoas de pele escura, negra, assim foram identificados pelos antigos gregos e romanos, mouro também pode significar ”sarraceno”, os mouros foram romanizados, e sua região se tornou a província romana da Mauritânia, uma das principais do Império Romano, no século V foram dominados pelo Vândalos, povo bárbaro germânico que dominou todo o norte da África, no século VII foram dominados e assimilados pelo Árabes, a miscigenação entre mouros, árabes, europeus e demais berberes deu origem a típica população moura ibérica e norte africana que conhecemos atualmente, onde o elemento árabe é mais predominante.

Na Espanha muçulmana, os mouros desenvolveram o algarismo árabe, que usamos atualmente, simplificando o antigo algarismo romano, os mouros resgataram o conhecimento grego e romano, que foi esquecido com as invasões bárbaras, fizeram grandes avanços na medicina, química, matemática, física, arquitetura e urbanismo, como as diversas cidades, mesquitas e prédios públicos existentes até hoje em várias cidades espanholas. Conta-se que foi na Espanha muçulmana que houve a primeira tentativa de voo com um veículo baseado no esqueleto de aves, mas o experimento não deu certo. Houve desenvolvimento da física, trigonometria, teorias numéricas, história, geografia, botânica, farmácia e astronomia, era um povo que amava a matemática e o raciocínio lógico.

A sociedade de al-Andalus era mais organizada e desenvolvida que os demais povos europeus da época, que viviam os estertores da Idade Média, o atraso econômico e social do feudalismo, a quase ausência de cidades, população rural, analfabetismo e o fanatismo religioso, tudo isso foi gradualmente mudando a partir do século XI com o renascimento comercial e cultural.

O fim da Espanha muçulmana

 A ocupação muçulmana foi em 711, já em 718 os antigos visigodos começaram a obter pequenas vitórias no norte da península, era o inicio da reconquista, embora fosse lenta, ao longo da idade média os cristão foram recuperando aos poucos o território perdido pelos Árabes. Formando os reinos de Navarra (atual região Basca), Aragão (atual Catalunha), Leão e Castela (Espanha propriamente dita), o lado esquerdo deu origem ao condado portucalense, que se tornou Portugal, sendo este o primeiro país a se libertar do domínio muçulmano na Ibéria. A luta continuava, e os Árabes foram sendo derrotados, principalmente devido ao fortalecimento militar dos europeus, e a obsolência da forma dos mouros fazerem guerra.

Em 1492 Fernando de Aragão e Isabel de Castela se casam e unem os dois reinos, formando a Espanha, com essa união, o reino mouro de Granada foi derrotado, pondo fim a última resistência Árabe na região.

A população Árabe que ficou, foi se assimilando aos europeus de origem romana e visigoda, formando a atual população espanhola. Vale destacar que, embora o idioma português, espanhol e outros idiomas minoritários como o catalã e galego tenham preservado suas raízes do antigo latim falado pelos romanos, muitas palavras de origem árabe foram introduzidas no vocabulário hispano-lusitano, como: almanaque, açúcar, azar, alcateia, alfaiate, algarismo, algodão, arroz, enxaqueca, garrafa, fulano, javali, laranja, limão, magazine, oxalá, matraca, safra, tambor, tapete, xarope, xaveco, xadrez, álgebra, café, cifra, nora, damasco, chafariz, algodão, almofada, algema, mesquinho, sucata, entre muitas outras, são no total mais de 600 palavras e expressões de origem árabe na língua portuguesa. O açúcar da cana e o café foram introduzidos pelos árabes na Europa através de Al-Andalus. Embora não há um número exato, estima-se que 20% da população total da península ibérica atualmente seja de ascendência árabe, moura e judaica.

 

Vejamos agora um pouco do legado Árabe Mourisco na península Ibérica:

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Palácio de Sevilla

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Portal dos Leões

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Palácio em Saragoça na época da dinastia almorávida, que governava também o norte da África.

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Oratório de Aljafería

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Mapa da península Ibérica durante o domínio muçulmano

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Torre do Ouro em Sevilla

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Mouros

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Mapa mostrando o império árabe na Idade Média

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Expulsão dos mouros da península ibérica

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Queda do reino mouro de Granada em 1492

Fonte das imagens: Google