Um post com muitos temas importantes, vamos lá! Sexta- feira, dia de PalomitaZ, dia de preparar a listinha de filmes para o fim de semana!

Os filmes da semana, veja:

1. Birdman, depois 1 hora e 28 minutos de filme, entendi o porquê dele ter ganhado o Oscar. Filme do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, a história conta a luta de um ator decadente, Riggan Thomson (Michael Keaton), que foi protagonista no passado de um filme de super- herói de muito sucesso, um pássaro voador, que o acompanha durante todo o filme, uma voz, sua consciência. Uma paródia da própria vida de Keaton, que fez o Batman, mas nunca ganhou um Oscar e é considerado um ator comercial, sem grande talento. Exatamente a história do ator do filme. Talvez a Academia tenha valorizado a coragem de Keaton em admitir isso (tudo suposições). “Birdman” talvez seja a  melhor interpretação de Michael Keaton no cinema. O filme mistura realidade e fantasia, Riggan voa, tem poderes de telecinésia (pode mover objetos e provocar explosões). O clímax acontece na meia hora final, antes disso, muita gente deve ter saído do cinema, porque é super monótono e repetitivo. O ator decadente monta uma peça na Broadway junto com seu melhor amigo, hipoteca a sua casa, com muitas dificuldades de todos os tipos, acidentes, obstáculos técnicos e com os atores. A peça é uma adaptação do conto de Raymond Carver “O que falamos, quando falamos sobre o amor”. As pré- estreias foram um desastre e antes da estreia, uma crítica diz que antes de ver a peça, vai detoná- la, porque ele não é um ator de verdade e ela está cansada de gente como ele, ator sem talento que usa o teatro só para ganhar dinheiro, entre outras coisas. No dia da estreia, na cena final, o ator usa uma arma de fogo e dá um tiro no próprio rosto, criando assim o “hiper-realismo”, a crítica foi boa no final, à custa de sangue real espalhado no palco. A Academia gosta de filmes assim, porque há uma espécie de identificação, a história do filme é bastante comum entre eles, mas não fará sucesso entre o público, suponho.

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2.  Boyhood, momentos de uma vida, foi o filme mais persistente e corajoso que alguém teve a ideia de realizar e esse foi Richard Linklater, diretor e roteirista da obra. Foi gravado durante doze anos com os mesmos atores (de 2002 a 2013). Um grande risco, a vida é muito incerta, o filme poderia ter ficado inacabado, o que felizmente, não aconteceu. A história não é grande coisa, essa é a pena. É bem comum e até sem- graça. Conta a vida de uma família, mãe e pai divorciados e dois filhos. O foco está no filho mais novo, Mason (Ellar Coltrane) de seis anos, que tem uma irmã mais velha, Samantha (Lorelei Linklater). Patricia Arquette ganhou o Oscar como melhor atriz coadjuvante, ela fez o papel da mãe de Mason. A mãe separou- se do pai de Mason,  a história começa nesse ponto. Ela casou outras duas vezes, com homens que pareciam ser boas pessoas, mas no final mostraram- se violentos, ela não duvidou em separar- se quando notou que eles podiam ser uma ameaça aos seus filhos. O filme trata do dia a dia da família, passeios, escola, amores. O pai (Ethan Hawke) na minha opinião, teve a melhor atuação e foi um dos atores que mais se notou o envelhecimento durante o filme, além das crianças, claro. A atuação do menino/ rapaz, Ellar Coltrane é bastante frágil. E apesar de ter sido uma grande ousadia do seu criador, o filme falha no roteiro, a história é muito plana, não conseguiu me emocionar.

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3. Samba, esse sim um filme que emocionou- me bastante. Produção francesa classificada como comédia e drama. O tema da imigração ilegal é o foco do filme, a imigração vista pelo lado do imigrante e toda sua luta e dificuldade. Samba (Omar Sy) é um senegalês que mora há dez anos  em Paris, trabalha lavando pratos num restaurante. Manda o dinheiro à mãe viúva e aos irmãos na África. Ele tem como comprovar esse tempo todo de trabalho, que é um cidadão de bem, que mora com um tio que trabalha e mora legalmente no país. O restaurante decide contratá- legalmente e ascendê- lo de posto, será ajudante de cozinha. Quando vai à imigração pedir a permissão de residência, acontece o contrário, ele vai preso e recebe uma ordem de expulsão do país. As advogadas de uma associação de imigrantes tentam ajudá- lo, ele sai da prisão, mas não consegue revogar a ordem de expulsão. Viverá escondido, em sub- empregos, usando documentos falsos. O tio com quase sessenta anos, insiste que Samba use o seu documento, a imigração descobre, o tio vai preso e perde o emprego como ajudante de cozinha num restaurante de luxo. Moram numa kitinete insalubre, mas sonham em voltar ao Senegal melhor do que vieram, não querem voltar como fracassados, sonham em comprar uma casa na beira do lago. Uma das advogadas, Alice (Charlotte Gainsbourg) mulher bem sucedida à beira de um ataque de nervos, usa o trabalho na associação como terapia para o colapso mental que teve. É depressiva, solitária e antissocial. Acaba envolvendo- se emocionalmente com a história de Samba.

Samba é o nome do personagem, mas tem algo mais de brasileiro na história. Um dos imigrantes, Wilson (Tahar Rahim) torna- se o melhor amigo do protagonista, é um brasileiro também ilegal no país, que passa as mesmas coisas que Samba; no entanto, é alegre e coloca o tom de humor na história, dança, faz graça. O curioso é que ele não é brasileiro de verdade, é um árabe que se faz passar por brasileiro, porque diz que dessa forma faz mais sucesso com as mulheres e tem mais facilidade de encontrar trabalho. Um elogio à nossa raça que é considerada alegre e bem vista aos olhos estrangeiros. Mas também mostra um lado, o do “jeitinho brasileiro”, aquela “esperteza”, uma forma de se dar bem nem sempre lícita, que eu não gosto. O falso brasileiro tem esse lado também, é o “esperto” entre os dois. É o que sabe como encontrar documentos falsos, como escapar da polícia e como encontrar trabalho.

As sutilezas do filme, os olhares de desprezo lançados ao imigrante negro no metrô, que vai bem vestido, trajado, para chamar menos a atenção da polícia, a vida nas sombras, sorrateira, em busca de um único objetivo: trabalhar. O trabalho que a maioria dos franceses despreza: nas alturas limpando vidros, lavando pratos, reciclando lixo, espalhando asfalto, na construção civil, guarda noturno.

Eu penso que o mundo não deveria ter fronteiras. O “livre” trânsito na União Europeia mostra que é possível que caiam as fronteiras sem renunciar ao poder tão apreciado pelos governantes. Ilegalizar pessoas é insano, isso sim deveria ser ilegal.

Um filme corajoso de Eric Toledano e Olivier Natake, que mostra a imigração do lado de lá, do lado que muita gente prefere ignorar, porque não interessa ou incomoda. Corajoso porque humaniza aquele sujeito que está escondido, marginalizado, coloca no palanque aquele que nunca tem voz nessa França (metade conservadora), que prefere fechar as fronteiras e expulsar essa gente “colorida”, que ocupa seus espaços e que eles não se interessam em conhecer. O racismo real, presente e verdadeiro que existe, não só na França, como na Espanha e toda a Europa. Os guetos formam- se por isso, porque os governos permitem a segregação racial e porque os imigrantes estão sozinhos, precisam de companhia. No exterior, a nossa família são os amigos que encontramos e espero que no seu grupo de amigos exista gente de todas as raças e nacionalidades.

A mensagem final do filme é essa, embora romântica, é que o amor pode vencer qualquer convenção social ou racial. A miscigenação é a solução, não o problema.

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Veja o trailer do filme legendado em português:

Gente é gente, todo mundo é igual dentro da sua diversidade, todos têm algo em comum, independente da raça, cor e classe social. Conheça as pessoas, esqueça a cor da sua pele e nacionalidade. Chegue junto, fale, tente. Você pode se surpreender como o outro pode ser tão parecido com você. Sem pré-conceitos todo mundo ganha. Racismo se aprende e pode ser desaprendido, porque é errado e ruim. Esqueça se te ensinaram isso, está errado. Você não é pior nem melhor do que ninguém.


Notinhas cinematográficas

  • O cineasta uruguaio Michael Wahrmann estreiou em Barcelona o filme “Avanti Popolo” que mostra a sua pessoal perspectiva da ditadura brasileira entre os anos 60 e 80. Veja o trailer.
  • A partir do dia 12 de março na Casa de América haverá a projeção de uma produção anglo-brasileira, “Trash- Ladrões de esperança”, um filme que conta a história de dois meninos que acham uma carteira cheia de dinheiro num lixão no Rio de Janeiro e isso ocasionará uma série de problemas. Filme triste que mostra as mazelas do Brasil, uma perspectiva mostrada do nosso país que já virou moda, como se só houvesse essa e é a fórmula que faz mais sucesso no exterior. Pobreza, favela, exploração do trabalho infantil e violência. Veja o trailer.
  • O filme brasileiro “Que horas ela volta?” com Regina Casé, ganhou o prêmio do público como melhor filme na mostra Panorama de Cinema de Berlim. O filme narra a história da pernambucana Val que vai para São Paulo trabalhar como empregada doméstica e deixa a filha Jéssica na casa dos ex- patrões para ser babá do filho do casal. A menina cresce, vai para São Paulo prestar vestibular e morar com a mãe na casa dos patrões. Esse filme trata das diferenças sociais e de como a coisa complica para os mais abastados quando a classe “inferior” e submetida cresce, ganha poder e entra onde antes não ousava. Veja o trailer.
  • No próximo dia 8 de março, domingo, Dia Internacional da Mulheres, o Yelmo Cines está com uma promoção por 1 euro para o filme, “No llores, vuela”, que já falei aqui no PalomitaZ (veja no link), só na sessão das 16:00 horas (cines Ideal, Plenilunio, Rivas, Tres Aguas, Plaza Norte 2, Icaria, Baricentro, Abrera, Castelldefels, Sant Cugat, Imaginalia, Puerta de Alicante, Los Rosales, Meridiano, Las Arenas, Ocimax, Los Prados, Boulevard, Valencia, Plaza Imperial, Vialia Málaga, Área Sur, Vigo.) Você pode comprar aqui a sua entrada.

Qual desses filmes você já viu? Conta!

Um Feliz Dia das Mulheres, companheiras! Estamos na luta, ainda falta igualdade salarial e de funções em várias áreas ( a maioria de cargos importantes e na política, continua com uma maioria masculina), mas seguimos com fé em dias melhores e lutando pelo nosso reconhecimento; também pela valorização da maternidade e dos serviços domésticos, que parecem funções menores e irrelevantes para muita gente, mas que suportam o peso e são a base para o bom funcionamento de toda a sociedade.

Um beijo especial para a dona Ana, a minha mãe, que é uma guerreira e a pessoa mais forte que eu conheço. Obrigada por tudo, mãe, pelo seu exemplo de força e de fé!

Até a próxima sexta- feira! #PalomitaZ