Diz um ditado popular que a beleza está nos olhos de quem vê. Será mesmo? Para a professora da Universidade de Drexel, nos Estados Unidos, Yaba Blay, a beleza é algo construído socialmente, e confere privilégios para quem a detém. Embora varie de local para local, ela diz que há um padrão mundial de beleza. Basta colocar a palavra beleza no Google que aparecem páginas e páginas, predominantemente de mulheres brancas, acrescenta. Portanto, “no contexto da supremacia branca, vemos que o poder funciona como hierarquia, onde o branco está no topo, associado ao belo, e a negritude, na base, associada ao que é bárbaro, negativo e feio”, diz Yaba. “A beleza negra é uma questão política”, completa.

Yaba Blay participou ontem (22) do Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha (Latinidades), em Brasília. A produção de Yaba é referência global em identidades negras, estéticas e práticas culturais e políticas raciais. Ela é autora do livro One Drop: Shifting the Lens on Race (Uma Gota: Ajustando as Lentes sobre a Raça, em tradução livre).

Na conferência, Yaba chamou a atenção para a apropriação da cultura negra. Penteados e vestimentas, que estão sendo usados e divulgados por pessoas brancas. “Um mesmo penteado em uma mulher branca é chique e em uma mulher negra é largado ou não profissional. Por que quando uma mulher branca usa um certo penteado que as mulheres negras sempre usaram elas recebem o crédito ou são dadas como pioneiras, mas quando as negras o fazem são taxadas como desleixadas?”, questionou.

O tema do Festival Latinidades este ano é Cinema Negro. Essa área mostra que os diferentes tons de pele brasileiros não são igualmente representados. Embora sejam mais da metade da
população, as mulheres negras são 4% das atrizes dos 218 filmes nacionais campeões de bilheteria entre 2002 e 2012, de acordo com pesquisa do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Entre as mulheres, a questão racial associada à beleza é mais evidente, segundo Yaba. O padrão feminino de beleza é branco, mas o masculino, de força e virilidade, é negro. Alisar os cabelos ou branquear a pele são efeitos desse contexto, segundo a pesquisadora, e pergunta: “O que isso faz com a nossa autopercepção?” Para dar visibilidade à beleza negra, ela criou a página PrettyPeriod  (BonitaPonto) na internet (http://prettyperiod.me/), na qual divulga imagens de mulheres negras.

O Festival Latinidades começou ontem (22) e vai até domingo (26). A programação, que inclui palestras, exibições de filmes e shows, está disponível no site www.afrolatinas.com.br.

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A professora da Universidade de Drexel, nos Estados Unidos, Yaba Blay

Com informações da Agência Brasil

Por: Mariana Tokarnia – Agência Brasil

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( Texto retirado na íntegra )