Quando a sombra da morte agenda uma visita, ela nunca falha. Sem que sejamos informados, chega em silêncio e bate à nossa porta. Entra sem se fazer anunciar. Uma vez tendo encontrado o seu espaço, faz ali a sua obra e desaparece sem dar explicações. O script, viciado, não se altera. A história é sempre a mesma. E embora já tenhamos vivido milhões de anos depois do nosso aparecimento, ainda não nos habituamos a essa realidade da qual não se pode fugir, apenas administrar.
Ao contrário do que acontece em boa parte do planeta, no Brasil ela não encontra resistência capaz de conter a fúria da sua marcha. Os rastros dessa liberdade se verificam, sobretudo, quando passeia pelas muitas ruas escuras e entregues ao destino. Basta que deseje incluir mais um número em suas estatísticas e tudo lhe será uma tarefa das mais simples, divertida talvez. Para morrer, não é preciso mais do que estar vivo, e isso está longe de ser apenas um clichê.
O governo, todos sabem, faz de menos para impedir essa colheita, que abarrota os necrotérios e enche de luto uma cidade indefesa, apesar de toda a sua extensão geográfica. Enquanto trabalhamos, descansamos, fazemos amor, divertimo-nos, no submundo se verifica um drama que a negligência escreve sem trégua. E ele faz com que os números de mortes violentas no Brasil sejam comparáveis aos dados de países em guerra, segundo pesquisas feitas por órgãos especializados.
O progresso, na área da segurança, é escasso. A bola da vez, agora, são os supostos efeitos trazidos pela redução da maioridade penal. A quem mais o poder vai atribuir a tarefa de tomar decisões que são suas prerrogativas? Qual será a sua próxima desculpa esfarrapada?
Em grande parte, a responsabilidade por esse clima de insegurança e medo é da ausência de ética na prática política. Ao invés de cuidar da chamada coisa pública, o poder aproveita cada nova oportunidade de se apoderar das coisas do público. Dentre elas, o direito à vida de verdade, que vai muito além da mera sobrevivência biológica.
Para morrer, não precisamos de bombas, tampouco de terremotos. É suficiente a política viciada no exercício da ganância sem medida. A tragédia é silenciosa, e as mortes, impunes, não têm registro, a não ser na vida dos que ficam.
Será que um dia desses vamos viver uma paz duradoura? ®
Rubens Marchioni é publicitário, jornalista e escritor. Sócio da Eureka! Assessoria em Comunicação Escrita. Colunista da revista espanhola Brazilcomz, da canadense BrasilNews e da americana BrasilUsa Orlando. Publicou Criatividade e redação. O que é, como se faz; A conquista. Um desafio para você treinar a criatividade enquanto amplia os conhecimentos e Câncer de mama. Vitória de mãos e mentes, este último sob encomenda. –[email protected] – http://rubensmarchioni. wordpress.com
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