As artistas brasileiras Marina Santo e Rafaella Marques apresentam suas obras Ombligo e Manifiesto Quirúrgico, no Espaço Labruc, nesta sexta dia 18, às 20h. O espetáculo está dividido em duas partes, onde primeiro Marina Santo realiza Ombligo, performance de dança/teatro, e em seguida, Rafaella Marques, encena Manifiesto Quirúgico. Ambos tratam das vicissitudes de ser mulher e imigrante brasileira; e estrearam ano passado na primeira edição do Festival Piscotrópicos.

A carioca Marina Santo teve seu primeiro contato com a dança por recomendação médica. Com um problema nos pés, o ortopedista recomendou o exercício para melhorá-lo. “Sempre tive uma relação muito forte com a dança. Fiz balé e jazz, mas sempre considerei um hobby, como várias meninas da classe média carioca” conta Marina Santo que teve a adolescência marcada pelo ressurgimento das rodas de samba e da soul music na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. Da mesma maneira, frequentava o Theatro Municipal do Rio de Janeiro para assistir de balé clássico à produção contemporânea e acabou se formando em História, pela UFRJ.

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Bailarina, criadora, modelo, brasileira morando em Madri: Marina Santo. Foto: Maritza Tortolero

O momento de inflexão foi quando começou a fazer aulas dança contemporânea com a carioca Esther Weitzman. “Foi a primeira pessoa que me falou de investigação, improviso, algo que era muito diferente dos outros registros que estava acostumada.” Na Espanha, Marina Santo decidiu dedicar-se à dança e encontrou nas professoras Simona Ferrar e Valéria Alonso, que trabalhavam dança e teatro, o caminho a trilhar. “Entendi que minha onda era a interdisciplinaridade, como tinha sido feito por Pina Bausch” completa Marina que vive em Madri desde 2006.

Conciliando empregos em lojas e aulas de dança, Marina Santo mergulhou neste universo e elaborou o projeto Corpo em Movimento. “Quis dar espaço para as pessoas que não se identificavam com uma aula de dança tradicional e para os que desejam trabalhar corpos criativos” explica a bailarina “Também priorizei o trabalho com as mulheres, pois acredito que o conhecimento do corpo é a chave para o emponderamento feminino” conta Marina que dá aulas na Fundación Entredós, em Madri e na Aula de Danza Estrella Casero, na Universidade Alcalá de Henares. Embora Marina Santo enfoque seu trabalho no universo feminino, ela dá aulas para homens dentro do projeto Cuerpo Plural.

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Marina Santo com suas alunas na Fundación Entredós. Foto: Barbara Dominguez

Ombligo

Ombligo é o primeiro trabalho solo de Marina e surgiu em fevereiro de 2013 quando ela completou dez anos morando fora do Brasil. Na ocasião, ela se questionava sobre a condição de ser mulher, imigrante, brasileira, assim como o de encarnar o estereótipo da mulher brasileira mulata. “Queria responder essas perguntas através do meu corpo, sem dissimular nada” pondera Marina. “Coloco meu corpo em jogo, não é uma coreografia no sentido estrito do termo: é uma proposta performática.” Em diferentes fases do processo de criação muitas pessoas a ajudaram como a coreógrafa brasileira Poliana Lima.

Luiz Alfredo Santos

Marina Santo em cena com “Ombligo”. Foto: Luiz Alfredo Santos

Da mesma forma, nesta busca para construir a performance, Marina Santo foi para Curitiba, onde conseguiu uma residência artística na Casa Hoffman. “Foi muito importante apresentar esse trabalho no Brasil, onde fui bastante questionada, mas me ajudou a continuar o processo e concluir o Ombligo na Espanha”. Ao voltar, a atriz Rafaella Marques a convidou para se apresentarem as duas obras conjuntamente na primeira edição do Festival Psicotrópicos.

A música, realizada pelo percussionista Rodrigo da Matta, foi construída em parceria. “Queria um apoio sonoro e tinha claro que deveria ser um brasileiro. Ao conhecer o Rodrigo da Matta, através de Rafaella Marques, encontrei o que desejava, pois ele faz um contraponto muito interessante comigo” conclui Marina Santo.

Na edição do Festival Psicotrópicos deste ano, Marina Santo exibiu , como idealizadora, a série de videos “Ellas nosotras,  baseado nas histórias das mulheres que fazem parte da árvore genealógica das quatro diretoras e criadoras – Isabella Lima, Inma Haro, Bárbara Dominguez e Rafaella Marques – que assinam a obra. Também está trabalhando com a coreógrafa brasileira Poliana Lima, no espetáculo “Atávico” ganhadora do primeiro prêmio de juri, imprensa e público no XXVIII Certamen Coreográfico de Madrid. Além disso, pensa na sequência de Ombligo, uma performance que se chamará Corazón.

Um pouco da obra dessas duas artistas brasileiras pode ser vista neste trecho:

Ombligo/Manifiesto Quirúrgico

Quando? 18 de setembro, 21h. Metrô Tribunal, L 10.

Onde? Espaço Labruc, calle de la Palma, 18

Quanto? 9 a 14 euros.

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Juliana Bezerra escreve neste espaço e no blog Rumo a Madrid.