O cantor, violonista e compositor Leo Minax faz um show, nesta sexta, dia 27, no café Libertad. Nascido em Belo Horizonte e jornalista de profissão, a vocação musical falou mais alto e Leo Minax se mudou para Paris em 1986. Depois de um ano na capital francesa, se estabeleceu em Madri onde gravou sete discos e fez parcerias com músicos como o cantor uruguaio Jorge Drexler e o pianista dinamarquês Steen Rasmussen. Com um estilo que une “voz e violão” ao melhor do jazz e da MPB, nesta entrevista Léo Minax nos conta sobre suas parcerias, seu novo trabalho Lo que no estaba escrito e avalia o cenário musical do Brasil e da Espanha.

1 – “Lo que no estaba escrito” é o sétimo disco de sua carreira. O que podemos esperar deste trabalho?

Lo que no estaba escrito é um disco acústico gravado ao vivo no estúdio. Um disco muito transparente, onde as versões soam frescas e diretas. Para isso, contei com a participação de dois músicos – Borja Barrueta, percussionista, e Pablo Martín Caminero, baixista – que gravaram todas as canções, e com os quais compartilhei a direção do projeto. O principal objetivo era conseguir uma produção desprovida de artificialidades e fazer um disco cru, onde as canções, os textos e os timbres falassem com voz própria. Acho que conseguimos isso!

Neste trabalho, as canções foram muito mimadas no seu processo de composição e gravação. Anteriormente já tinha gravado um disco totalmente acústico, Sem tirar nem pôr, só com violão e voz, também gravado ao vivo no estúdio, depois de uma longa turnê pelo Japão. Do ponto de vista do critério usado na produção, Lo que no estaba escrito é como um desdobramento desse disco anterior, onde a simplicidade também foi fundamental.

2- Como a música brasileira está presente nas suas composições?

Totalmente presente!  É impossível não estar totalmente condicionado, estimulado e influenciado pela música brasileira e pela música cantada em português. Nasci e cresci com ela. Trato de acompanhar, na medida do possível, o que fazem os artistas brasileiros no Brasil e fora do Brasil. Sigo me alimentando da música feita com a criatividade musical do nosso país que sempre foi um nutriente indispensável.

3- Você faz parcerias muito interessantes e com músicos de várias vertentes. Como surgiu a parceria com o uruguaio Jorge Drexler?

Sempre fui fã do Drexler! Conheço o que ele há muito, desde que chegou à Espanha. Drexler sempre foi pra mim uma referência no âmbito da canção feita em castelhano. Uma vez eu estava tocando em San Lorenzo Del Escorial e ele estava entre o público. Eu ainda não o conhecia pessoalmente, e foi naquele dia que isso aconteceu. Eu me atrevi a cantar uma composição dele ali, uma canção da que gostava muito chamada “De Amor y Casualidad”. Esse encontro foi bonito! Posteriormente a gente pôde trabalhar junto como parceiros e amigos.

Leo Minax - Fotógrafo GILBERTO ONEE

Leo Minax se apresenta nesta sexta, no Café Libertad. Foto: Gilberto Onee

4- E com o pianista dinamarquês Steen Rasmussen?

O encontro com o Steen foi também muito bonito, pois o conheci no palco. Foi no Café Central, em Madrid, onde ele tocava com o seu quinteto. Ele apresentava um disco dele, onde tinha gravado uma parceria minha com o Chico Amaral, “Tempo de Samba”. Esta canção eu já gravara anteriormente no meu disco Aulanalua e nem sabia dessa gravação do Steen, não o conhecia e nem sabia que estava tocando em Madri. Um amigo comum foi quem nos apresentou em Madri e o Steen me convidou para participar naqueles shows do quinteto no Café Central. Ali, no palco, começou a nossa parceria! (Por certo, o segundo disco dessa parceria com o Steen estará pronto e disponível no próximo mês.)

5- Suas produções são muito bem cuidadas. De onde surge tanta inspiração para os vídeos, apresentações e composições?

A inspiração aparece só de vez em quando e a gente tem de ficar correndo atrás dela. Gosto muito de trabalhar no processo de composição das canções. É parte do meu dia-a-dia. Boa parte do resultado musical tem a ver com o trabalho feito com os parceiros, que são parte importantíssima nas composições. Além disso, são muito importantes as parcerias no âmbito das imagens e assim sou sempre cuidadoso com a parte visual do meu trabalho musical.

6- Do Brasil para Paris, e finalmente, Madri. Como está o cenário musical madrilenho com a crise econômica?

O panorama atual é instável. Acho que a instabilidade é a palavra que define este momento. Não só por causa da crise econômica que vem sofrendo a Espanha e boa parte do mundo, mas também pelo fato de que o modelo de proteção ao direito autoral, vigente durante muitos anos, agora está em crise. Estamos no meio de um parêntesis importante por estes dois motivos. De todas as formas, não podemos ficar só reclamando: é preciso buscar novas alternativas e novas formas de seguir produzindo.

7- Mesmo longe, você não deixa de se apresentar no Brasil. Ao contrário da Espanha, no Brasil vivemos (ou vivíamos) um período de relativa prosperidade econômica. Como vê o panorama musical brasileiro hoje?

O cenário musical no Brasil é e será sempre interessante devido à efervescência e à criatividade do artista brasileiro. Com a crise da indústria fonográfica, decorrente da decadência de um modelo de negócio, os artistas brasileiros do chamado mainstream começaram também a usar a ferramenta alternativa usada até então somente pelos artistas de menos presença midiática. Agora, os grandes nomes estão tentando produzir através de projetos feitos através das leis de incentivo à cultura nos âmbitos municipal, estadual e nacional. Creio que neste momento urge repensar este modelo, de maneira que a produção musical dos artistas brasileiros possa seguir contando com o apoio cultural institucional, mas que este apoio se traduza em alternativas eficazes que facilitem a produção e a projeção de novos talentos.

Conheça um pouco mais do trabalho de Leo Minax com a canção “Causa y Efecto” feita com Jorge Drexler:

 

Informações

Leo Minax

Quando? Sexta, 27. Horário: 21:30h.

Onde? Café Libertad 8 –  calle de la Libertad, 8 – Metrô: Chueca, L5 ou Banco de España, L2.

Telefone:  91 532 11 50.  Site: http://www.libertad8cafe.es/

Juliana Bezerra escreve neste espaço e no blog Rumo a Madrid.