A cantora Fabiana Cozza fez seu primeiro show em Madri, na Sala Clamores, dia 23. Trazida pela produtora Abroad Management, a cantora paulistana apresentou as canções do seu novo CD “Partir”, lançado este ano no Brasil. Acompanhada pelo magnífico violonista baiano Jurandir Santana, Fabiana Cozza encantou a plateia que lotava a tradicional sala madrilenha ao cantar temas como “Entre o mangue e o mar” (Alzira E/ ArrudA) e Orixá (Roberto Mendes e Jorge Portugal) ou sucessos consagrados como “O samba é meu dom”, de Wilson das Neves, quando também tocou pandeiro e “Berimbau”, de Vinícius e Baden Powell. O show de abertura ficou a cargo do violonista Arturo Lledó e do pianista uruguaio Diego Ebeler.

Fabiana Cozza veio para a capital espanhola acompanhada de Jurandir Santana, diretor musical da turnê e um dos violonistas de maior destaque do atual cenário brasileiro. No palco, o entrosamento de ambos é excepcional. A exuberância de Fabiana Cozza, ataviada com um vestido estampado, maquiada e com um grande bracelete, contrasta com a timidez de Jurandir; mas as diferenças desaparecem nos primeiros acordes e o público se deleita com o diálogo musical entre os artistas.

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Jurandir Santana e Fabiana Cozza. Foto: André Leite.

Mais cedo, a cantora conversou com o blog Culturando e comentou sobre sua carreira, a turnê na Europa e, claro, sobre o CD “Partir”. Embora faça shows pela Europa há nove anos, pela primeira fez Fabiana Cozza ficou mais de um mês no continente. As apresentações começaram em Londres, no Bloco Serafina, do qual é madrinha, passou por Alemanha, França e Itália, e terminará também na capital britânica onde canta convidada pela Embaixada brasileira e no African Street Festival.

Formada em jornalismo pela PUC-SP, Fabiana Cozza seguiu o caminho musical.  Ganhadora do Prêmio Música Brasileira, gravou o CD “Canto Sagrado”, em 2013, baseado em canções consagradas por Clara Nunes. “Em 2012, quando ela faria 70 anos, muita gente boa resolveu homenageá-la e eu tinha acabado de ganhar o prêmio de Música Brasileira. Não era hora de fazê-lo, mas segui minha intuição e depois entendi a razão. Para compreender melhor a vida de Clara, me aproximei da irmã dela, Dona Mariquita, e que hoje, a pedido da Clara, cuida com enorme dificuldade da creche que a Clara deixou em Caetanópolis (MG). Parte da renda dos shows foi revertida para a instituição e acho que essa foi a minha missão com a Clara” declara a paulistana.

Se “Canto Sagrado” é dedicado ao samba, “Partir”, produzido por Swami Jr., é um disco mais intimista, onde a Bahia está presente, mas também Cabo Verde e Mali, além de outros sons africanos tão familiares, mas ao mesmo tempo, desconhecidos para o público brasileiro. “Com ‘Partir’, abro a janela da Bahia para o mundo” diz Cozza. Para escolher os compositores, Fabiana segue a intuição “Descobrir novos talentos é faro. A canção toma conta de mim e eu gravo; por alguma explicação que não é racional, essas canções fazem parte do meu caminho e eu as encontro” completa Fabiana cujo disco será lançado no Japão em setembro.

Partir

O CD já foi lançado no Brasil e em breve, na Espanha.

“Em um primeiro momento, o público pode estranhar, porque é um trabalho muito diferente do que vinha fazendo” relata Fabiana Cozza “Uma das mudanças é o fato de não dançar em cena” explica acrescentando que a direção do show é assinada por Elias Andreato. No entanto, isso não significa que ela não utilize um gestual próprio do teatro, quando tira os sapatos para cantar sambas que louvam os orixás ou lança olhares atrevidos na bela “Não pedi” (Roberto Mendes e Nizaldo Costa).

Essas mudanças também estão relacionadas aos estudos que a artista vem realizando nos últimos tempos. “Há um ano venho tendo aulas com a professora de canto e interpretação Linda Wise, do Pantheatre, em Paris. Isso mudou a minha cabeça, tanto para o palco como para a elaboração de um disco. É importante que o artista não tenha medo e dê um passo à frente. Afinal, a técnica vem para abrir caminhos e deixar tudo mais fácil” pondera.

Inquieta, a intérprete mal lançou o CD e já pensa no futuro. “Tenho três projetos. Acabei de fazer uma gravação com um músico da Guiné-Bissau onde canto em creole. Quero lançar um disco só de voz e violão com Jurandir Santana e vou começar a ensaiar um espetáculo sob direção de Elias Andreato com o pianista cubano Pepe Cisneros” relata.  “Também não descarto fazer mestrado sobre a roda de samba como espaço de convivência, de transmissão de conhecimento e de respeito à hierarquia” conclui Fabiana.

Seja qual o for o destino que a aguarda, todos que estiveram na sala Clamores Jazz desejam que Madri cruze novamente o seu caminho.


Confira o tema que abre o CD “Partir”, “Velhos de Coroa”, de Sérgio Pererê.

 

Juliana Bezerra escreve neste espaço e no blog Rumo a Madrid.