Marco Lima é natural de Niterói/RJ e começou a estudar guitarra adolescente. Integrou o Coral do Centro Educacional de Niterói onde descobriu sua verdadeira vocação: a música. Cursou Violão na Uni-Rio, onde fez Mestrado e agora está na Alemanha, graças a uma bolsa do DAAD (Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico). O músico se apresenta com o Quarteto de Karlsruhe, dia 29, dentro do Festival Zeitgenuss, dedicado à Música Contemporânea da Universidade de Música de Karlsruhe. Nesta entrevista, ele conta sua trajetória.

Quando você começou a estudar música?

Comecei a tocar guitarra com 13 anos, tinha banda de rock com os amigos e estudava no Conservatório de Música do Rio de Janeiro, em Niterói, como professor Marco Guimarães. Mais tarde entrei no coral do Centro Educacional de Niterói, sob a regência de Ermano Soares de Sá, que fazia um trabalho muito importante de musicalização com os adolescentes. Aí me deu um clique, porque vi que era música que queria fazer na vida. Desta maneira, na época do vestibular fiz aula de violão clássico com o filho do maestro, o Leonardo Loredo de Sá.

Em que momento você descobriu a música clássica?

Minha mãe tocava piano e tinha discos de violão clássico de Turíbio Santos, de Sebastião Tapajós. O coral também me abriu os horizontes e nestas primeiras aulas que tive pude descobrir que o violão poderia ser diferente daquilo que estava acostumado. então comecei a estudar obras renascentistas, os estudos de Villa-Lobos e Leo Brouwer que me abriram novos horizontes.

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Marco Lima tocando no teatro Municipal João Caetano, em Niterói.

 

E como foi a faculdade?

Prestei vestibular para Licenciatura porque não estava pronto para o Bacharelado. Quando comecei a estudar na Uni-Rio, minha professora, Maria Haro, me estimulou a mudar. Fiz dois anos de licenciatura e depois o Bacharelado. Em 2003, no último ano, dava aulas em escolas de Niterói e no CEIM (Centro de Estudo e Iniciação Musical da UFF); e participei de vários concursos no Brasil, como o Concurso da Associação de Violões que me permitiu tocar em vários lugares do Rio.

Também toquei no Quarteto Carioca de Violões do Rio com o Nicolas de Souza Barros. Cada semana era um repertório diferente e isso me fez crescer muito porque ele era exigente. Procurávamos privilegiar compositores brasileiros vivos e tocávamos Edino Krieger, Nicanor Teixeira e Arthur Verocai.

Em 2007, fiz concurso para ser professor substituto na UFRJ, onde lecionei por um ano e meio; e fui fazer mestrado na Uni-Rio, sob a orientação do Nicolas de Souza Barros também. No final de 2009, me inscrevi para a bolsa do DAAD e fui aceito.

De que maneira você obteve esta bolsa?

Participei de um intercâmbio Brasil-Alemanha realizado na Uni-Rio, com o professor Andreas von Wangenheim, da Hochschule für Musik Karlsruhe (Universidade de Música de Karlsruhe, em tradução livre). Na master class, ninguém queria tocar e eu me ofereci. Além de tudo, haviam divulgado a data errada e quase não havia alunos. Então, fiz várias aulas com ele e conversei sobre a possibilidade de vir pra cá. Ele concordou, me deu a carta de aceitação e também fiz uma gravação de meia hora. Em 2010 saiu a bolsa.

Como é o mestrado na Alemanha?

É o extremo oposto do mestrado no Brasil, pois é extremamente prático; o foco é na performance, nas aulas de instrumento, fazer música de câmera e outras matérias que você pode escolher. A parte escrita que fiz foi  o programa do meu concerto de formatura com comentários sobre as obras e compositores executados.

Karlshure Quartet Foto Maria Kemper

Marco Lima integra o Karlshure Quartet que se apresenta regularmente. Foto: Maria Kemper

Você já sabia o idioma? Foi difícil adaptar-se?

Não sabia nada de alemão, mas conhecia a pronúncia porque cantávamos música alemã no coro. Nos quatro primeiros meses meu cérebro fritava com as aulas de alemão e ainda há problema dos dialetos; e nem sempre o que aprendia na escola era falado na rua. Por sorte tinha muito brasileiro no meu curso e fiz vários amigos.

Você já sofreu preconceito por ser brasileiro?

Não. Aqui na Alemanha eles são cuidadosos em relação a isso. Eles pensam várias vezes antes de dizer qualquer coisa ofensiva a um estrangeiro. O preconceito que sofri considero positivo, pois por ser brasileiro acham que sei jogar bem futebol (risos).

Atualmente, quais são os seus projetos?

Terminei o mestrado e agora estou fazendo Especialização com outro violonista, o Tilmann Hoppstock, na Akademie für Tonkunst Darmstadt (Academia de Música de Darmstadt, em tradução livre).

Faço concertos solo, toco com um quarteto de violão, e paralelamente tenho outros projetos como um trio com a flautista Juliane Wahl e a cantora Johanna Vargas. Com este grupo fizemos um concerto na Itália com música do compositor Sérgio Roberto de Oliveira (nascido no Rio de Janeiro). Além de dar aula no Badisches Konservatorium – Conservatório de Karlsruhe.

Acervo Pessoal Julie Wahl Juliane Vargas

Ao lado de Juliane Wahl (flauta) e Johanna Vargas (canto), Marco Lima apresentou-se na Itália.

Qual é o perfil do estudante de música na Alemanha?

As crianças tem aula de música desde cedo e quase todo mundo toca algum instrumento ou participa de coros. Na universidade, é mais comum os alemães fazerem licenciatura e garantem seu emprego em uma escola, pois um professor de música é bem pago e o nível é super alto. Por outro lado, a maior parte de quem estuda música aqui como instrumentista normalmente é estrangeiro como coreanos e chineses.

A música clássica brasileira é conhecida?

A relação com o Brasil, na Universidade de Karlsruhe, é grande por causa do intercâmbio entre universidades dos dois países. Aqui tem muito brasileiro estudando piano por causa dos professores Fabio Martino, Fany Solter e o alemão Michael Uhde. Todo ano ele organiza um concerto de câmera com música brasileira. Dentro da universidade se conhece bastante música brasileira, mas já fiz concertos onde fui tocar Villa-Lobos e o pessoal não sabia quem era.

Curiosamente já fiz alguns concertos onde era a primeira vez que as pessoas escutavam o violão como instrumento clássico. Aqui existe um projeto interessante onde as pessoas oferecem suas casas para concertos, cobrando ingressos, e podemos conversar com a plateia. Numa dessas apresentações, todos comentaram que nunca tinham escutado violão como instrumento de música clássica. Por isso, acho importante esse tipo de formato de concerto  para divulgar toda versatilidade do violão.

Concerto Karlsruhe Quartet 

Quando? Dia 29, às 17 h.

Onde? Schloss Gottesaue (castelo Gottesaue), Gottesauer Straße 1 – Karlsruhe

Programa: composições de Uwe Kremp.

Juliana Bezerra escreve neste espaço todas as quintas-feiras e é autora dos blogs Rumo a Madri e Um ano na Espanha.