Que ninguém se engane com a juventude de Marina Lledó: a filha do violonista espanhol Arturo Lledó cresceu escutando o melhor da Música Popular Brasileira, ao lado da música espanhola e latina. Cantando em um português perfeito, a cantora lança  seu primeiro disco “Noche Rara”, nesta quinta, 21, na sala Bogui Jazz. Nesta entrevista, ela repassa um pouco das suas influências brasileiras e nos conta como foi fazer o CD.

Conte-nos um pouco da sua trajetória profissional. Por que a música brasileira tem uma influencia tão grande na sua carreira?

Meu pai é músico e nasceu na Espanha, mas com 11 meses foi para o Brasil e começou a dar aulas de música aos 17 anos. Com 25 anos, voltou à Espanha e continuou com suas atividades, por isso desde pequena escuto música brasileira. Como instrumentista, tudo o que ele faz tem um toque de jazz-brasil. Assim, comecei a subir nos palcos com ele, cantando uma música e outra. Fiz meu primeiro show aos 17 anos e a partir daí fui fazendo participações e atuações em vários clubs madrilenhos.

Além de crescer em um ambiente musical, como foi sua formação artística?

Houve um momento em que estudava teatro e fazia shows e tive que optar entre ser atriz e ser cantora porque era difícil conciliar as duas atividades. Nesta época, a música me dava mais oportunidades e preferi seguir como cantora porque quando você coloca energia em duas coisas diferentes acaba não colocando em lugar nenhum. Estudava música e estava compondo bastante quando terminei a escola de teatro.

Estudei canto na Escola de Música Criativa com Daniel Reus e José Sepúlveda e depois estudei piano com os cubanos Andrés Alem e Pepe Reviro, meu professor atualmente. Logo recebi uma bolsa de estudos pela AIE (Sociedad de Artistas Intérpretes o Ejecutantes de España)  e fui estudar linguagem musical e harmonia. Atualmente, também estudo canto lírico.

Noite Rara Giuseppe Marconi

O Brasil está presente até na capa do disco de Marina LLedó. A fotografia é do brasileiro Giuseppe Marconi.

Quais foram suas principais influências da música brasileira?

Na minha casa tive a sorte de escutar um leque muito amplo da música brasileira, pois várias pessoas pensam que esta música se restringe à bossa nova e ao samba. Ouvi desde a música popular mais tradicional até Zizi Possi onde descubri canções como Uirapuru (Waldemar Henrique) ou Escurinha (Cartola).

Escutei muito Gal Costa, Marisa Monte, Elis Regina e paralelamente a Caetano, Chico e Gil. Hermeto Pascual que me deixa louca, Joyce que é super jazzeira, Ivan Lins. São pessoas que não cantam somente composições próprias, mas que recuperam temas mais antigos e os renovam.

Como você definiria o seu estilo?

A palavra que costumo utilizar para definir é fusão e acho que esta palavra já deveria estar estabelecida como um estilo de música. Tenho muita influência da música brasileira, mas sou aberta ao flamenco e ao pop; há músicas no CD que soam como habanera ou latin jazz, mas sempre com um toque de música brasileira. Em geral, o disco tem uma cor muito latina e tem elementos de jazz, mas também do pop. “Noche rara” foi uma dessas músicas que saem tudo de uma vez: melodia, letra e harmonia.

Quais são as músicas que encontramos em Noche Rara?

Por ser meu primeiro disco quis mostrar minhas raízes e escolhi temas como Marina (Dorival Caymmi), Preciso me encontrar (Geraldo Pereira / Arnaldo Passos), Cajuína (Caetano Veloso), Mama África (Chico César), Garota de Ipanema (Tom e Vinícius) com um arranjo do meu pai. Incluí composições próprias cantadas em espanhol e um tema em inglês.

Também conto com ótimos músicos convidados que foram influenciados pela MPB como o pianista cubano Pepe Rivero, o saxofonista de Filadelfia Bobby Martínez, a violinista de Michigan, Maureen Choi e o percusionista de Salvador, Rogerio Souza.

Como é dividir o palco com seu pai?

É muito bom! (risos) Ele sempre me ajudou muito, concordo com sua maneira de fazer os arranjos e estou muito influenciada por ele. Claro que temos nossas diferenças, especialmente na adolescência, quando era rebelde e não queria fazer algum show (risos). Mas eu o admiro muito como músico e ele a mim como cantora e nos damos muito bem no palco.

Informações

Marina Lledó apresenta o CD “Noche Rara”

Marina Lledó, voz – Jorge Vera, piano – Arturo Lledó, violão – Juan San Martín, baixo – José San Martín, bateria.

Onde? Bogui Jazz. Calle del Barquillo, 29. Metrô: Chueca, L5 e Banco de España, L2.

Quando? 21:00. Informações e reservas 91 521 15 68

Quanto? 8€

Juliana Bezerra escreve neste espaço e no blog Rumo a Madrid.