“A Estrada 47”, de Vicente Ferraz, abre o NovoCine, festival de cinema brasileiro em Madri, que acontece de 12 a 22 de novembro. O filme conta a história de soldados brasileiros que formaram a FEB – Força Expedicionária Brasileira – durante a Segunda Guerra Mundial. Rodado na Itália durante o inverno, o filme traz a desconhecida participação dos brasileiros no conflito mundial.

O diretor teve inspiração para fazer o filme a partir da leitura da obra de Rubem Braga, que foi correspondente da guerra, pelo Diário Carioca. “Quando eu o li, não vi um filme, vi uns cinquenta filmes, porque cada crônica dele trata de um assunto desde os trágicos aos cômicos” conta o diretor “Fiquei imaginando o que seria um menino de 20, 21 anos cruzar o oceano, estar num país, quase outro planeta, pegar o pior inverno do século – a FEB pegou -15º nos Alpeninos italianos – e enfrentar o maior Exército da História”.

Posteriormente, a participação da FEB durante o conflito mundial oscilou entre o ufanismo da ditadura militar ou a crítica feroz ao Exército. Para Vicente Ferraz, no entanto, é preciso se concentrar no lado humano e nas dificuldades que os soldados brasileiros enfrentaram. “Aqueles meninos que estiveram lá encararam o mesmo exército que os soldados americanos” reflete o cineasta “A bala alemã que matava soviéticos em Stalingrado ou os americanos no Dia-D era a mesma que matava o pracinha”.

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Um filme de paz e não de guerra

Apesar de o enredo tratar da Segunda Guerra Mundial, Vicente Ferraz se concentrou no aspecto humano do grupo de soldados brasileiros que encontra um inimigo de guerra, um oficial alemão, no meio da estrada. “Só fiz uma pequena cena de combate. A minha intenção era criar uma atmosfera. Então, o filme não é de guerra e sim, que se passa na guerra, pois ele fala de paz, de uma situação limite de pessoas que estão em um conflito armado. É um filme sobre os filhos do Brasil que foram para combate”.

Outro desafio para Vicente Ferraz foi trabalhar com atores que vieram diversas escolas e nacionalidades. “O Thogum era um rapper no Rio de Janeiro, o Chico Gaspar é ator de teatro de rua, o alemão Richard Sammel já tinha feito o ‘007’, ‘A vida é bela’; o italiano Sergio Rubini que fez ‘Paixão de Cristo’ e o Daniel de Olivera, é conhecido da televisão” recorda o diretor “Ainda contamos com o ótimo ator português Ivo Canelas. Ele foi para o Rio e trabalhou muito com uma fonoaudióloga e ninguém me diz que ele não seja brasileiro. Aliás, o personagem dele é uma homenagem ao Rubem Braga”. Segundo Vicente, o trabalho foi bem-sucedido porque os atores entenderam que o filme não tem um protagonista e sim um grupo de atores que interpreta toda história.

“A Estrada 47” também colheu importantes prêmios como o de melhor filme no Festival de Gramado (2014) e de melhor ator para Francisco Gaspar, no Festival do Rio (2013).

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O diretor Vicente Ferraz dedica seu filme aos brasileiros que lutaram contra o fascismo. Foto: João Compasso

 

NovoCine

Promovido e organizado pela Embaixada do Brasil em Madri e a Fundação Hispano-Brasileira, o NovoCine deste ano traz 14 longas-metragens, dois curtas e um ciclo em torno à obra do documentarista Eduardo Coutinho. Assim como no ano passado, o NovoCine promove um seminário sobre a recente produção cinematográfica verde e amarela na Faculdade de Ciências da Informação da Universidade Complutense de Madrid.

Exibições

A Estrada 47, de Vicente Ferraz.

Todas as sessões são gratuitas.

Dia 12, 20:30, Cine Palacio de la Prensa, Plaza de Callao, 4.Metrô Callao, L5.

Dia 17, às 19h, sala Berlanga. Calle de Andres Mellado, 53. Metrô Moncloa, L3 e L6; metrô Islas Felipinas, L7.

Dia 19, às 21:30, sala Berlanga. Calle de Andres Mellado, 53. Metrô Moncloa, L3 e L6; metrô Islas Felipinas, L7.


Juliana Bezerra escreve neste espaço e no blog Rumo a Madrid.